"UMAS & OUTRAS" #21
Os protótipos nacionais (cont)–1970/72
Joaquim Lopes Filho
Como já dito antes, em 1970 dá-se a grande virada no automobilismo nacional.
Para isso concorre a carreira vitoriosa de Emerson Fittipaldi, respectivamente na F-Ford, Fórmula Três e sua chegada triunfal à Fórmula, Um, vencendo seu primeiro GP já na sua quarta participação, em Watkins Glen.
Começa então a grande migração de pilotos brasileiros rumo às pistas européias, notadamente na F-Ford e F-3 inglesas. O Brasil repete ali o grande fenômeno ocorrido com os pilotos australianos no início da década de 60.
Em termos domésticos, fica cada vez mais patente a falência do modelo de corridas brasileiro, privilegiando corridas longas em detrimento das provas de velocidade, tipo sprint.
O sucesso da temporada internacional BUA de Fórmula Ford, realizada no início de 1970 com provas em Interlagos, Rio, Curitiba e Fortaleza, despertou o interesse do público brasileiro para as curtas e disputadas corridas de monoposto, ao mesmo tempo em que a Copa Brasil, esta promovida em Interlagos, trazia carros mais atuais como os Porsche 908 e 907, Lolas T-70 e 210, Ferrari 512S….
Chegava ao fim o tempo das carreteras, Mecânica Continental (ou Nacional), Simcas, DKWs, JKs e berlinetas Interlagos.
Novos carros nacionais – Opala, Corcel, VW quatro portas, Simca GTX – já ensaiavam seus primeiros passos nas pistas e no campo dos protótipos a realidade não era muito diferente.
O protótipo Fúria
A estréia do formidável protótipo Fúria nos Mil Km de Brasília de 1970 já demonstrava a vontade de se atingir aqui condições mais objetivas para produção de protótipos de melhor nível tecnológico.
Criação do genial Toni Bianco, o protótitpo Fúria foi a sensação da temporada de 1970, dividindo as atenções com o já bem conhecido Bino Mark II, tendo conseguido duas vitórias: uma no GP Mackenzie, em Interlagos e a outra na inauguração do Autódromo de Tarumã, ambas com Jaime Silva ao volante.
Fúria-FNM, sensação da temporada de 1970.
O protótipo, ao longo de sua vida útil que se estendeu até 1973, teve cinco versões e várias motorizações , a saber: Fúria-FNM (Jaime Silva e Ugo Galina), Fúria-GM (Pedro Victor Delamare e Olavo Pires), Fúria-BMW (Jaime Silva e Ugo Galina), Fúria-Ferrari e Chrysler (Camilo Christófaro) e Fúria-Lamborghini (Jaime Silva).
Fúria-GM (Pedro Victor Delamare) e Amok-VW (Alex Dias Ribeiro)
Fúria BMW, hoje no acervo de Paulo Trevisan no RS
Furia-Chysler, #18, entre Porsche, Avallone e Fuscas, BH, 1972
Fúria-Lamborghini
De todos os chassis, o único com rumo ignorado é o de #1, pois o chassi #2 sobrevive em Brasilia bastante modificado; o Fúria-BMW repousa, muito bem restaurado, no Museu do Automobilismo de Passo Fundo, propriedade de Paulo Trevisan.
O Fúria-Chrysler (que também andou duas provas com motor Ferrari) continua em poder da família de Camilo Cristófaro em São Paulo, assim como o Fúria-Lamborghini que hoje se encontra em uma garagem de uma casa no Morumbi, como parte de um espólio judicial.
Outros protótipos safra 1970
Talvez não com tanta beleza e apuro técnico do Fúria, mas outros protótipos andaram bem em 1970, como o já citado Kinko Spyder de Luis Evandro Águia, o Amato-Ford – este utilizando um chassi alargado e elementos mecânicos de um Macon de F-Ford -, e o carioca
Heve P-3, a rigor o primeiro da estirpe.
Amato Ford: chassi, suspensões e câmbio de um F-Ford Macon inglês
De Brasília vem o renovado Amok, ex- protótipo OK e assinala-se ainda a estréia do Fitti-Alfa (ou Fitti4), outro projeto da dupla Ricardo Divila-Ary Leber e o primeiro carro nacional a ser testado em túnel de vento, mas que não passou de duas tentativas, tendo quebrado em ambas.
Fitti-Alfa, o segundo projeto de Ricardo Divila e Ary Leber
O Campeonato Brasileiro de Viaturas Esporte Nacional – 1971/1972
Sob este pomposo título finalmente em 1971 é disputado o primeiro campeonato brasileiro de protótipos genuinamente nacionais, enquadrados como Divisão Quatro, se bem que ainda comportando veículos com chassi e motores importados (Divisão 6).
É ainda a primeira vez que os campeonatos brasileiros foram divididos por categorias. O Campeonato Brasileiro de Velocidade seria disputado pelos recém lançados monopostos da F-Ford e o Campeonato Brasileiro de Viaturas Turismo seria dedicado aos carros da Divisão Três.
Estavam criadas as condições objetivas para o crescimento dos protótipos nacionais e a resposta não se fez esperar, nos dois anos seguintes a categoria fortaleceu-se de tal maneira que passou a ser a principal do automobilismo nacional, até ser desbancada pela Super Vê em 1974.
Ainda em 1971, Antonio Carlos Avallone constrói a primeira versão do Avallone A-11, chassi tubular copiado da Lola T-160, motor Chrysler, câmbio Hewland e carroceria da Lola T-163 Can Am. Além do Casari A-1, é o único protótipo nacional de grande cilindrada e iria dominar a Classe B (acima de dois litros) nos anos seguintes.
O primeiro modelo Avallone A-11, com J.P. Chateaubriand
A Heve comparece com seu modelo P4C, uma evolução do modelo anterior, sempre obedecendo à fórmula já consagrada, chassis tubular, eixo dianteiro VW e caixa 3 Puma, receita que nortearia a maioria dos protótipos brasileiros daquela época.
O carioca Heve P4C, primeiro de uma série vencedora
No Rio Grande do Sul registra-se a participação do protótipo Phantom-VW de Ricardo Trein, ex-Tino DKW, e o Aragano bimotor de Dino de Leone.
Vindo do RS, o Phantom-VW de Ricardo Trein
Outro protótipo meio inusitado foi o Meta-20, criação de Chico Landi para homenagear os vinte anos da Indústria Metal Leve, que utilizava motor Opala 2500 cc com compressor.
Meta 20, motor Opala 2500 cc com compressor
A consolidação da Divisão Quatro
A separação dos campeonatos mostra-se uma medida acertada, com resultados promissores em 1972, ano em que realmente se consolida a Divisão Quatro.
Novos protótipos estréiam nas pistas como os belos e vencedores Heve P5, e o original Manta curitibano – que fugia do lugar comum apresentando um chassi tubular reforçado por chapas de alumínio e uma curiosa carroceria do mesmo material. Outra inovação do Manta paranaense era os freios in-board e a opção de três chassis, de acordo com a motorização utilizada.
Manta, carroceria em alumínio e freios in-board
Heve P5, vencedor desde o nascimento
Outros protótipos se apresentaram, neste ano – a maioria na Classe B até 2 litros – como o Sabre-VW , o Newcar-GM, e até o estranhíssimo Milli-VW que tinha parte de sua carroceria feita em madeira moldada!
Sabre VW, venceu na estréia!
Newcar-GM e o Milli-VW # 51 de carroceria de madeira
Enfim, a lista é longa e na próxima coluna falaremos do apogeu e morte da Divisão Quatro.
Até lá……!!!
Joaquim, Joca, ou “Anexo J” do Boteco do SalomaEx-comissário desportivo da FIA, foi fundador, presidente e diretor técnico de kart clube, rali, arrancada e dirigente de federação de automobilismo.
Titular da coluna “Umas&Outras”, escreve regularmente neste espaço às segundas feiras.
(reprodução)
Mestre Joca,
o Newcar e o Amato são o mesmo carro?
Mestre Joca,
o Newcar e o Amato são o mesmo carro?
Joaquim, Joaquim…
Mais um show habitual das segundas-feiras (tá certo o plural?)
Bom demais beber de sua sabedoria e conhecimentos enciclopédicos, sempre fugindo do lugar-comum (tem hífen?)
Alguns dos protótipos citados, jamais havia ouvido falar. E a saber que para cada carro desses dá prá escrever um livro… Espero que essa série seja apenas o preambulo de materias com ainda maior profundidade, carro a carro.
Nossa história merece.
Abraços ao Batman e Robin – Mestre Joa e Saloma, não necessariamente nessa ordem.
Joaquim, Joaquim…
Mais um show habitual das segundas-feiras (tá certo o plural?)
Bom demais beber de sua sabedoria e conhecimentos enciclopédicos, sempre fugindo do lugar-comum (tem hífen?)
Alguns dos protótipos citados, jamais havia ouvido falar. E a saber que para cada carro desses dá prá escrever um livro… Espero que essa série seja apenas o preambulo de materias com ainda maior profundidade, carro a carro.
Nossa história merece.
Abraços ao Batman e Robin – Mestre Joa e Saloma, não necessariamente nessa ordem.
Vou ter que mudar pra “BatBoteco”…he…he…
LS
Vou ter que mudar pra “BatBoteco”…he…he…
LS
Olá, Jonny…
Neste caso, sim, Amato e Newcar são o mesmo carro. Explico: o primeiro Newcar foi um equipado com motor VW, projeto do José Maria (Giu) Ferreira. Já o Amato-Gm foi o segundo projeto de Salvatore Amato que, com ele, fez uma prova em Interlagos. Depois, o Amato-GM foi vendido o piloto carioca Newton Pereira que o rebatizou de Newcar-GM. Mesmo carro, denominações diferentes. Este carro hoje pertence ao Caique Pereira, que está iniciando seu processo de restauração.
Aquele abraço,
Olá, Jonny…
Neste caso, sim, Amato e Newcar são o mesmo carro. Explico: o primeiro Newcar foi um equipado com motor VW, projeto do José Maria (Giu) Ferreira. Já o Amato-Gm foi o segundo projeto de Salvatore Amato que, com ele, fez uma prova em Interlagos. Depois, o Amato-GM foi vendido o piloto carioca Newton Pereira que o rebatizou de Newcar-GM. Mesmo carro, denominações diferentes. Este carro hoje pertence ao Caique Pereira, que está iniciando seu processo de restauração.
Aquele abraço,
É Joaquim, este Fúria que está aqui em Brasília foi de um colega meu e ele correu os mil quilômetros de Brasília de uns 4 ou 5 anos atrás e andou muito bem até quebrar na reta do colégio militar, mas estava com motor Alfa V6. Ele vendeu para o Rogério Vilas Boas que colocou motor Alfa 4 cilindros e o estava vendendo a uns tempos atrás.
O Amorc também foi pilotado pelo Luiz Estevão, mas eu naquela época confundia com o protótipo Royale com motor opala.
Jovino
É Joaquim, este Fúria que está aqui em Brasília foi de um colega meu e ele correu os mil quilômetros de Brasília de uns 4 ou 5 anos atrás e andou muito bem até quebrar na reta do colégio militar, mas estava com motor Alfa V6. Ele vendeu para o Rogério Vilas Boas que colocou motor Alfa 4 cilindros e o estava vendendo a uns tempos atrás.
O Amorc também foi pilotado pelo Luiz Estevão, mas eu naquela época confundia com o protótipo Royale com motor opala.
Jovino
Grande Joaquim !
Gostei muito de rever o carro do Ava vestido com a carroceria da T163, que desapareceu depois de danificada no primeiro teste.
Mas preciso fazer uma retificação. Tanto a T160 como a T163 usavam chassis monocoque, praticamente iguais aos das T70.
O Avallone usava sim um chassis tubular, mas herdado da T140 F5000. A Lola, para baratear custos, ainda manteve o chassis tubular na melhorada T142, mas pressionada pela concorrência, acabou aderindo ao monocoque na versão seguinte T162.
O Avallone usava toda a suspensão, uprights, amortecedores, freios, rodas e caixa da T140, assim como todas as medidas. Era, literalmente, um Fórmula 5000 biposto, vestido com a bela carroceria da T222.
Grande abraço !
Grande Joaquim !
Gostei muito de rever o carro do Ava vestido com a carroceria da T163, que desapareceu depois de danificada no primeiro teste.
Mas preciso fazer uma retificação. Tanto a T160 como a T163 usavam chassis monocoque, praticamente iguais aos das T70.
O Avallone usava sim um chassis tubular, mas herdado da T140 F5000. A Lola, para baratear custos, ainda manteve o chassis tubular na melhorada T142, mas pressionada pela concorrência, acabou aderindo ao monocoque na versão seguinte T162.
O Avallone usava toda a suspensão, uprights, amortecedores, freios, rodas e caixa da T140, assim como todas as medidas. Era, literalmente, um Fórmula 5000 biposto, vestido com a bela carroceria da T222.
Grande abraço !
Joaquim, belíssimo artigo. Obrigado por dividir com a gente. abraço
Joaquim, belíssimo artigo. Obrigado por dividir com a gente. abraço
Mestre Joca,
Li mas duvidei: o tal Milli Vw tinha mesmo a carroceria de madeira? Como isso era possível numa época onde a fibra de vidro era o material das carrocerias dos carros de corrida? Aguardo resposta.
sds.
Mestre Joca,
Li mas duvidei: o tal Milli Vw tinha mesmo a carroceria de madeira? Como isso era possível numa época onde a fibra de vidro era o material das carrocerias dos carros de corrida? Aguardo resposta.
sds.
Como sempre a coluna está ótima…show de detalhes do Joca HD 5 GB…..
Obrigado mais uma vez….
Saloma,vai sabado de manhã para o templo???
Como sempre a coluna está ótima…show de detalhes do Joca HD 5 GB…..
Obrigado mais uma vez….
Saloma,vai sabado de manhã para o templo???
Estaremos por lá…vc já pode pilotar o azulão?
LS
Estaremos por lá…vc já pode pilotar o azulão?
LS
Meu caro Gilberto,
Descrevi o que uma pessoa que conheceu o carro me adiantou. Na realidade, o uso da madeira moldada foi na primeira versão e assim mesmo somente na traseira e capota, salvo engano.
Explico: o construtor José Minelli na época era dono de uma fábrica de móveis e utilizou a técnica da madeira moldada, talvez por ter o material mais disponível.
Esta técnica consiste – e sei disto pois há vários anos atrás ajudei um amigo na construção do casco de um veleiro de 30 pés, que usava a mesma técnica – na superposição de lâminas muito finas de madeira, coladas entre si e vergadas sob o efeito do vapor d´agua. O objetivo é conseguir uma alta resistência e baixo peso, mas creio que, pelo menos nos veleiros de vários anos atrás, com o advento da fibra de vidro, a técnica da madeira moldada tornou-se bastante superada.
Em carros , foi a primeira vez que ouvi falar de seu uso.
Grande abraço,
Meu caro Gilberto,
Descrevi o que uma pessoa que conheceu o carro me adiantou. Na realidade, o uso da madeira moldada foi na primeira versão e assim mesmo somente na traseira e capota, salvo engano.
Explico: o construtor José Minelli na época era dono de uma fábrica de móveis e utilizou a técnica da madeira moldada, talvez por ter o material mais disponível.
Esta técnica consiste – e sei disto pois há vários anos atrás ajudei um amigo na construção do casco de um veleiro de 30 pés, que usava a mesma técnica – na superposição de lâminas muito finas de madeira, coladas entre si e vergadas sob o efeito do vapor d´agua. O objetivo é conseguir uma alta resistência e baixo peso, mas creio que, pelo menos nos veleiros de vários anos atrás, com o advento da fibra de vidro, a técnica da madeira moldada tornou-se bastante superada.
Em carros , foi a primeira vez que ouvi falar de seu uso.
Grande abraço,
Já estou ótimo…..estou já vindo trabalhar com o Scooter mesmo!!!!Mas sabado vou de azulão.
Abração
Já estou ótimo…..estou já vindo trabalhar com o Scooter mesmo!!!!Mas sabado vou de azulão.
Abração
Joaquim,
Parabéns por mais uma matéria magnífica.
Quanto ao uso de madeira moldada na fabricação de carrocerias, bem antes de Minelli utilizar tal material no seu protótipo, o esportivo inglês Marcos GT já usava em produção de pequena escala.
Joaquim,
Parabéns por mais uma matéria magnífica.
Quanto ao uso de madeira moldada na fabricação de carrocerias, bem antes de Minelli utilizar tal material no seu protótipo, o esportivo inglês Marcos GT já usava em produção de pequena escala.
Oooooooooooops, Joaquim,
Mutatis mutandis, o Marcos GT utilizava madeira no chassi e fibra na carroceria.
Oooooooooooops, Joaquim,
Mutatis mutandis, o Marcos GT utilizava madeira no chassi e fibra na carroceria.
Que show de imagens e dados desses maravilhosos carros.
muito bom!
ABS.
Que show de imagens e dados desses maravilhosos carros.
muito bom!
ABS.
Viajei… fui transportado à minha juventude… nestes protótipos, que foram a raiz da Divisão 4… Tempos bons, quando nosso automobiluismo não era dominado pelas categorias monomarca, ou por categorias em que só correm os muito ricos (GT3 Brasil), e até a única corrida em que podia haver um confronto da criatividade dos projetistas brasileiros (a deliciosa Mil Milhas) com a tecnologia importada, e às vezes, o nacional vencia…
Viajei… fui transportado à minha juventude… nestes protótipos, que foram a raiz da Divisão 4… Tempos bons, quando nosso automobiluismo não era dominado pelas categorias monomarca, ou por categorias em que só correm os muito ricos (GT3 Brasil), e até a única corrida em que podia haver um confronto da criatividade dos projetistas brasileiros (a deliciosa Mil Milhas) com a tecnologia importada, e às vezes, o nacional vencia…
Adorei, sou apaixonada por prototipos desde que nasci e no ginasio meus amigos me achavam louco porque queria colocar um prototipo na rua. Hoje aos cinquenta estou patenteando o meu sonho.
Adorei, sou apaixonada por prototipos desde que nasci e no ginasio meus amigos me achavam louco porque queria colocar um prototipo na rua. Hoje aos cinquenta estou patenteando o meu sonho.
Já li em alguns sites e não sei de onde foi tirada a informação que o Furia Lamborghini faz parte de um “espólio judicial”. O carro está realmente guardado em uma casa no morumbi, mas não faz parte de nenhum espólio judicial.
Já li em alguns sites e não sei de onde foi tirada a informação que o Furia Lamborghini faz parte de um “espólio judicial”. O carro está realmente guardado em uma casa no morumbi, mas não faz parte de nenhum espólio judicial.