JAN BALDER E NORMAN CASARI EM ANGOLA
Foi a última vez que houve participação de pilotos estrangeiros de nível mundial em Angola.
Com presença da dupla de brasucas, Jan Balder e Norman Casari, com um Porsche 907 #25 e aproveitando o vídeo que o Jan enviou, vamos mais longe e replicamos seu relato da prova que foi publicado no Motorsport in Angola.
“Em 1972, fui convidado para disputar, em dupla com Norman Casari, a segunda edição da Seis Horas de Nova Lisboa, em Angola, na África portuguesa.
Havíamos estado lá no ano anterior, mas problemas mecânicos em nossa Lola T70 não permitiram alinhar na corrida. Semanas depois, em Interlagos, ela foi destruída pelo fogo na curva 3 de Interlagos, quando era pilotada pelo próprio Norman.
Estávamos sem carro, mas os simpáticos organizadores portugueses em Angola alugaram um Porsche 907 de uma equipe suíça. Fiquei entusiasmado: eu nunca havia sentado em um Porsche de corrida.
A equipe, Wicky Racing Team, era particular e tinha três Porsche – exatamente os modelos de corrida da marca que existiam no Brasil: 908, 910 (iguais aos utilizados pela equipe Hollywood) e 907 (de Angi Munhoz e Freddy Giorgi). Depois de recepcionados pelo proprietário da equipe, André Wicky, fomos à oficina para ajustar pedais, banco e outros detalhes do Porsche 907.
O carro havia participado da 24 Horas de Le Mans e de lá, segundo Wicky, foi para Stuttgart para uma revisão geral. O carro estava imundo e aproveitamos para limpá-lo. Seguimos para o circuito de rua, o mesmo traçado do ano anterior.
Norman saiu para “pegar a mão” da pista e, para espanto de todos, estabeleceu um incrível recorde de volta – os cronometristas erraram nosso tempo em 10 segundos. Girão pediu para ficarmos calados e André Wicky pediu uma reunião conosco.
Ele se entusiasmou tanto que queria mudar as cláusulas do nosso contrato para ficar com o prêmio de chegada, caso houvesse. Neguei e disse-lhe que o direito do prêmio era do Automóvel Clube de Huambo, que havia alugado o carro. No segundo treino, encurtamos a relação de câmbio e melhoramos o nosso tempo real, ficando em quinto lugar no grid, em meio a alguns veículos de maior cilindrada.
Na volta de apresentação, o pneu traseiro vazou e a equipe o encheu com um produto de vedação, novidade na época. Norman largou muito bem, mantendo a quinta posição e sendo o melhor Porsche na corrida. Depois, assumi o volante e, com quase metade da prova, começou a jorrar óleo no para-brisa. A luz de pressão começou a acender e parei no box. O reparo foi feito com uma cola no radiador, e era difícil acreditar que vedasse em dia de forte calor. Mas o robusto motor resistia bravamente e continuei na corrida, tentando recuperar a quinta posição.
O suave ruído do motor de 2 litros e 4 comandos girando a 8.000 rpm (limite estabelecido pela equipe) era muito agradável.
O câmbio de 5 marchas era de engate curto e rápido, e os freios eram ótimos para aquele circuito de baixa velocidade que exigia muitas freadas. Não acreditava que estava sentado em um Porsche puro-sangue de corridas.
Lá pelas tantas, na curva mais lenta do circuito, feita em primeira marcha, o carro deu uma ligeira atravessada, apontou com o pneu de dentro para a ponta da guia e bati.
Resultado: pneu murcho, barra da direção quebrada e, pior, o volante de direção girou na minha mão e meu dedo virou uma bola. Doía bastante e me arrastei até o box, onde constatei que o pneu traseiro (o mesmo que murchara na largada) também estava “no chão”. Isso explicava a saída de trajetória naquela curva. Fiquei chateado porque o Norman havia andado o fino e eu joguei a corrida fora. Ficou a enorme satisfação – e a saudade – de pilotar o Porsche 907″.
O vídeo abaixo da prova, veio do blog Car Vice.
Reprodução/Texto: Jan Balder/Fotos no vídeo: Toni Almeida/Tuku Tuku
Grande registro. na época eu acompanhava tudo de automobilismo e esta corrida é novidade pra mim.
saudações cariocas
O Jan ‘e otimo para contar causos. Ao vivo ou escrevendo a gente sente o evento.
Uma enciclopedia de historias.
O livro dele e uma festa para quem curte, especialmente anos 60 e 70.
Boa lembrada sindico.
A melhor que reportagem que já vi aqui, tudo muito bem documentado.
Parabéns ao Jan que, como disse Regi Nat Rock, é ótimo ao vivo e escrevendo. E ao Tuku-Tuku, que não só se preocupou em ser Diretor de Prova, bem como providenciou para que a corrida fosse toda documentada. Seria bom se nossos dirigentes o tomassem como exemplo.
Excelente fotos, sonoplastia e edição, enfim NOTA 10!
Norman e Jan o fino de pessoa e piloto um patrão (Norman) como poucos e um amigo de verdade acertador de carro me dava as cordenadas sem erro e Jan tem o mesmo dom, e as bielas retorcidas da LOLA bem acho que tenho um pouco de culpa pois me preocupei demais com o cambio que montei lá mesmo em Huambo que não verifiquei a pressão do oleo com o motor quente.Norman de castigo me mandou para Portugal em 72 enquanto corriam em Angola para esfriar a cabeça ou então pra me sacanear não entendi eté hoje,um abraço Sidney