DIÁRIOS DO HUGO #21

(SEGUNDA PARTE)
7ª. Corrida – Interlagos 22-11-2008
Preliminar da 36ª. Mil Milhas Brasileiras (extra-campeonato)

A desorganização dos dirigentes da prova, porém, continuava a imperar. Não houve briefing para os pilotos, e não se tinha certeza de como seria a largada. Imaginamos acertadamente que, com essa quantidade de carros, seria mesmo lançada, mas ninguém oficialmente nos comunicou nada. Ainda não sabíamos, mas a falta desse briefing viria a ser uma das responsáveis por um dos “quase acidentes” mais sérios da nossa categoria.
Aprendi com isso que, por mais repetitivos, e até chatos que os briefings possam ser, são de fundamental importância para a segurança dos pilotos e das corridas. Pequenos detalhes que fazem grandes diferenças, como sistema de largada, recomendações para ultrapassagens, bandeiras, e demais procedimentos são discutidos e tratados minuciosamente. E muito acertadamente, a grande ênfase é sempre sobre segurança. Tempo para a realização de um briefing houve à vontade. O que não houve, foi vontade “política” de realiza-lo. Nas duas horas e meia que separaram o final do treino classificatório da hora da largada, ficamos perambulando pelos boxes admirando os carros que correriam na Mil Milhas, e também a um dos treinos livres deles. Com meia hora para a abertura dos boxes, é hora de fazer pipi, colocar um adesivo daqueles que abrem as ventas do nariz, e botar na boca dois tabletinhos de chicletes Trident. As últimas duas providencias ajudam a manter a respiração num ritmo mais normal durante a corrida, e evitam deixar a boca seca. O Rodrigo Ruiz se aproxima, e me entrega o CD com fotos da Brasinha em ação, feitas por ele em Londrina. Aproveito para perguntar se me permitiria eventualmente usar suas fotos num livro. Ficou de pensar…
Costumo entrar no carro faltando uns quinze minutos. Me ajeito no banco, e com a ajuda de um meca, amarro direitinho o cinto de quatro pontos. O pessoal da empresa Motores Velozes, especializada na filmagem personalizada das provas, está por ali trabalhando com suas câmeras. Coloco a balaclava, o capacete, e as luvas. Faltando cinco, alguns carros ligam seus motores e começa a zoeira. Levanto a capa vermelha dos interruptores do tipo “caça” que comandam a ignição e a bomba de gasolina, e verifico se a chave geral está ligada. Faltando uns três, ligo o interruptor da ignição, aperto o botão do “starter”. O motor ronca forte, lindo! Uma acelerada, e ligo a bomba elétrica de combustível que vai garantir que o álcool chegue sem interrupções aos carburadores. Algumas aceleradas para limpar o sistema, conferir o limite de giros estabelecido no conta-giros, e aguardar que a turma comece a se mexer, dando espaço para sair do box e formar uma fila indiana. Mãos amigas aparecem na janela, e rápidos apertos são trocados. São os mecas, os amigos, e hoje especialmente, mulher e filha que dão os últimos votos de boa sorte. Desta vez eu tinha uma torcida muito especial!

Apesar, ou por causa disso, estava completamente calmo e bem tranquilo. Exatamente ao meio-dia, substitui-se a bandeira vermelha que fecha o acesso à pista, por uma verde. A fila indiana começa a se movimentar parando momentaneamente na frente do fiscal de pista. Este examina se estamos devidamente equipados, com o cinto preso, e se as luzes de freio estão funcionando. Estando tudo OK, ele libera o piloto para a pista. Algumas aceleradas para elevar o giro, pois geralmente os motores engasgam um pouquinho enquanto nos deslocamos devagar, em função dos comandos de válvulas que, só abrem bem mesmo, em alta. Pegamos a “estradinha” sinuosa que corre paralela à curva do S do Senna, e que desemboca lá em baixo, na reta oposta. Atenção com qualquer outro carro que possa vir forte, saindo da Curva do Sol, e é acelerar reta abaixo! Geralmente nessa pisada pra valer, o motor “limpa” de vez, e se estabiliza num ronronar alto, de som grave, delicioso. Não sei porque, mas sempre nesse ponto tenho a mania de fazer uns zig-zags para me certificar de que o carro está obedecendo! Tipo checagem de aileron, leme e profundor… Ligeira freada na Curva do Lago, pois a velocidade vindo dos boxes ainda é baixa, e começo a acelerar mais forte em direção ao Laranjinha. Curva gostosa, das poucas à direita, e de duas tangências, sendo a segunda meio cega por estar numa subidinha. Se você acerta direitinho a tomada da primeira nem precisa virar mais o volante que o carro vai certinho na tangência da segunda. Aí, é só deixar o carro escorregar até a zebra de fora que, por acaso, já é a tomada do S antigo. E o carro, nesta saída de curva, escorrega mesmo, pra valer! Em seguida freada forte para tomar o S do miolo. Se pudesse, mudaria o nome desta curva que considero besta. Tem o nome de “S”, mas é perneta. Só tem a primeira perna. O que seria sua segunda, já é a famosa Curva do Pinheirinho, de raio constante e fácil de fazer, desde que dosando-se corretamente o acelerador. Uma semi-retinha, e daí vem a Curva do Bico de Pato, a mais lenta do circuito, e por isso mesmo, traiçoeira. Nessas três últimas curvas aproveita-se para verificar como está a aderência do asfalto naquele momento. Descemos à esquerda na rápida Curva do Mergulho que dá sempre um friozinho na barriga, a única neste traçado que consegue fazer isso conosco. Lembra um pouquinho uma montanha russa, e tenho sempre a impressão de que não vai dar para fazer de pé em baixo, acelerando tudo, sem aliviar. Mas dá, e acabo fazendo sempre no páu. A área de escape nesse ponto é enorme, tipo estacionamento de supermercado. O carro balança, e vai saindo de lado, escorregando nas quatro até subir um pouco na zebra, o que ajuda a consertar a trajetória para a tomada da Curva da Junção. Esta, como já disse, é a curva mais importante de todo o circuito para fazer “vir tempo”. Durante a corrida é a que contornamos com o maior capricho, tentando sair dela o mais forte possível para poder enfrentar, com o motor “cheio”, a longa subida em curva que leva à reta dos boxes, e ao complemento de mais uma volta. Se você erra, e sai frouxo, vai demorar uma eternidade para embalar de novo. Se você erra, e sai demasiadamente forte, roda sem perdão, e vai parar na grama ou coisa pior.
Como ninguém havia ainda alinhado, entrei pelo “pit lane” adentro para atravessar os boxes, e dar mais uma volta.
Quando os boxes são oficialmente abertos para a formação do grid, não se pode mais passar pelas posições estabelecidas de largada, sem parar nelas. Portanto, para dar uma ou mais voltas antes de alinhar, temos que passar pelo pit lane. Aproveitei, e em frente ao box 21, diminui a velocidade o suficiente para atirar pela janela para o meca Rafael, a parte inferior do banco que havia se soltado novamente, e caído entre meus pés. É uma pequena parte acolchoada que sustenta as coxas, e que é presa com Velcro. Não faz a menor falta.
Completada a volta, agora já havia carros alinhados. Com um aqui, outro ali, e faltando ainda muita gente, fica difícil saber onde é que fica a sua posição correta. Fui chegando devagarzinho, dando tempo aos fiscais de conferir o meu numeral em suas papeletas para que pudessem indicar exatamente, onde deveria parar. Descoberto o local, me apontam a vaga certa. Paro nela, e desligo o motor. Alinhei.
Atrás de quem? Do Paulo Souza! Desta vez ele estava com o Fusca AP 2.0 cinza, mas mantinha o número 914. O Paulo foi o oitavo, e eu o décimo, mas na arrumação do grid, de um sim, um não, eu fiquei bem atrás dele, com o nono colocado ao meu lado. O pole position foi o Malanga com o “Puma” verde número 7 em 1:59. O segundo, foi o caro amigo Sebastião Gulla com seu “Puma” vermelho número 51 em 2:02. Em terceiro, o Nenê Finotti com 2:03 baixo, no seu Corcel II número 98 que apelidaram de “Pac Man”, mas que eu chamo mesmo é de “Chão de Estrelas”, pelo monte de purpurina colorida que misturaram na tinta! Os Pumas estão entre aspas, porque quase não se parecem mais com Pumas. O verde do Malanga tem tantos apêndices aerodinâmicos que fica difícil dizer que carro é. O vermelho do Gulla, é uma quase-réplica muito bem feita e bem acabada, como tudo o que ele faz, de um Ferrari GTO, marca pela qual é apaixonado. O quarto no grid foi o simpatissíssimo e competente “bota” Hermenegildo “Gildo” Antunes, com o seu famoso Volkswagen quatro portas modelo “Zé do Caixão”, e com o tempo de 2:03 alto. Quinto, o piloto-mecânico-amigo Fábio Coelho com o Passat “marron avelã”, em 2:04. Sexto, Ricardo Magnusson, ótima figura, e seu raro Bianco pintado nas antigas cores azul e laranja da Gulf Oil, em 2:06.4. Sétimo, o experiente e sempre gentil Wanderley Natali que correu muitos anos com Alfa Giulia Sprint, agora em seu Passat D3 número 45 com o tempo de 2:06.7. Oitavo, meu amigo “gentleman”, e colega de “enrosco”, Paulo Souza em seu brabíssimo Fusca AP 2.0 com 2:06.8. E em nono, uma posição antes de mim, o simpático semi-novato Roberto Agresti com o surpreendentemente rápido Puma D2 prata número 22, em 2:7.0 “duros”, portanto, o pole da sua divisão. O pole da D1 foi o Du Lauand, e seu Fusca endiabrado, com 2:10.8 em 17º. O Flávio Gomes com o Lada D2 número 69, o já famoso “meianov”, largaria em 27º. com o tempo de 2:21. Com toda certeza “os russinhos”, piloto e carro, ainda vão baixar bastante esse tempo com a evolução natural do carro.
O último colocado no grid fez o tempo de 2:29. Portanto, um total 33 carros classificados dentro de 30 segundos. Trinta, em 25 segundos. Caso o Luque e sua bela BMW, a turma do Della Barba, e outros ausentes que só correm nas provas do campeonato, tivessem comparecido, passaríamos fácil de 40 carros no grid. Um número verdadeiramente espetacular. Mais ainda se levarmos em conta que, para a prova da Mil Milhas, afinal o evento principal, largariam pouco mais de vinte carros.
Estamos agora sozinhos, e faz silêncio. É um momento de extrema paz. Costumo fechar os olhos, respirar fundo, e ficar quietinho. Chega um meca, vindo lá da frente que verifica, num instante, a pressão dos pneus. Tudo certo. Pergunta se preciso de algo. Digo que não, ele aperta minha mão, deseja boa sorte, e segue para checar outro carro da equipe. Ajeito o espelho retrovisor. Algumas vezes, preciso tirar os óculos para limpar as lentes embaçadas com a ponta dos dedos enluvados. Descobri que colocando os óculos bem na ponta do nariz, eles não embaçam! Verifico se o volante que, é removível, está bem preso, e fico ali, olhando para o tempo, sem ter nada mais para fazer… Lá na frente levantam a placa dos 5 minutos. Faz um calor “da gota”!
Hora de começar a função! Ligamos os motores e verificamos os mostradores dos relógios: Pressão e temperatura do óleo, temperatura da água, e pressão de combustível. Placa de 3 minutos, e os motores agora roncam mais forte, nervosos. Placa de 1 minuto, e logo depois, a de 30 segundos. O carro madrinha com suas luzes amarelas giratórias na capota se movimenta, e nós também, atrás dele. Começa então o ballet de aquecimento dos pneus. Um vem pra cá, outro vai para lá, e vamos seguindo. Confesso que não “danço”. Não acredito muito que esse zig-zag esquente significativamente nossos pneus radias, e faça qualquer diferença. Quase completando uma volta, a partir da Curva da Junção, começamos a nos agrupar em nossas posições. Subimos pela Curva do Café que antecede a reta dos boxes, e o carro madrinha apaga suas luzes amarelas indicando que vai ser dada a largada. Estamos todos juntinhos em segunda marcha. Mais uma vez, pela falta do briefing, não sabíamos como o carro madrinha se comportaria na largada. Comportou-se mal. Diminuiu tanto a marcha que quase causou uma batida entre os três ponteiros. Subitamente, como que querendo nos enganar, acelerou e entrou rápido no acesso que leva aos boxes. Livres dele, olhamos fixamente para a bateria de luzes de largada que ainda estavam vermelhas…e…agooora…verdes! Largamos!

Barulheira infernal, poeira levantada, cuidado com os carros da frente, dos lados, e de trás. Tem carro se mexendo ariscamente por todos os lados à sua volta. Esticamos a segunda, procuramos uma brecha, passamos terceira, e está na hora de tomar o S do Senna. Fumaça de freio fritando! Nos arrumamos em qualquer cantinho vago, e contornamos de qualquer jeito aquela primeira curva dupla. Fiquei por fora na segunda perna, e perdi uma posição para o Chevette número 58 do Fernando Mello. Na Curva do Sol à esquerda, recupero a posição.

Na Reta Oposta sigo pelo lado de dentro, trajetória defensiva ideal para se fazer a tomada da Curva do Lago novamente à esquerda, e também ofensiva, no caso de se querer ultrapassar alguém ali. Primeira freada forte da prova com todo o mundo ainda meio embolado. O Nenê com a carretera Topolino AP, e o Ricardo Magnusson com o seu Bianco Gulf, nos ultrapassam facilmente, costurando no meio do bolo. Ambos, costumeiros ponteiros, haviam largado atrás do pelotão por problemas durante o treino classificatório. Daí até o Laranjinha, as coisas começam, como sempre, a clarear.
Na segunda volta, conforme pude conferir depois por fotos, e principalmente, pelo assustador vídeo “on board” do Aroldo, Felipe Castro, um menino estreando, perde a freada da primeira perna do S do Senna, no final da reta. Ao invés de seguir reto pelo remanescente da Curva 1 do antigo traçado que está lá para isso mesmo, resolve “consertar” a manobra, e descer pela grama para voltar à pista mais abaixo. Nisso, o Marcelo Giordano de Fiat 147, o Aroldo Teixeira de Puma, e o Du Lauand de Fusca, todos bem coladinhos, estão contornando normalmente a curva. O menino do Passat de número 50, descontrolado, sem frear ou aguardar a passagem dos carros, sai perpendicularmente na pista, logo depois da segunda perna do S, exatamente na frente do Fiat que se aproxima acelerando. Até hoje ninguém entende como não bateram! Deve ter sido coisa de milímetros. O menino cruza a faixa de asfalto, milagrosamente sem ser atingido, saindo novamente da pista, na grama do outro lado. Por muito pouco o Marcelo não acerta a porta do piloto do Passat, numa violenta batida em T, muito parecida com a que causou a morte do Rafael Sperafico na Stocklight em 2007. O menino-piloto-passageiro corrige, evita a batida no muro de pneus, e consegue retornar, de qualquer jeito, no meio de um outro bloco de carros que está passando.

Duas voltas mais tarde, tentando afoitamente recuperar posições, perde outra vez a freada, agora na Curva da Junção, obrigando ao Marcelo, novamente ele, a sair para a grama pelo lado de dentro para evitar o choque. Uma completa lambança, e novamente um perigo. O Fiat é obrigado a fazer um “auto-cross” pela grama, perde a sonda lambda, e suja o carburador de terra, o que compromete definitivamente o resultado da corrida do “primo”. Fizemos uma representação escrita contra a atitude desse menino de 17 anos, junto à FASP. Sim, isso mesmo, dezessete! A CBA assim como outras entidades internacionais, permite que, jovens a partir de 16 anos, participem de competições esportivas. Me parece um absurdo sem tamanho! Ora, se um rapaz não possui documento de habilitação, nem pode ser juridicamente considerado responsável pelos seus atos, como pode então, pilotar uma carro a 200 quilômetros por hora, pondo em risco a sua vida, e a dos demais competidores? Realmente, uma dessas coisas incompreensíveis….
Enquanto tudo isso vai acontecendo um pouco mais atrás, sem que eu saiba, na minha frente, o Zé do Caixão do Gildo tem problemas mecânicos e abandona na quinta volta. Na sétima, ficam pelo caminho o Corcel II do Nenê, e o Passat “marron avelã” do Fábio. Os motores AP dos três, possuem alguns bons cavalinhos a mais do que o meu, porém estão também, mais sujeitos às quebras. Na nona, o Malanga em meio a uma nuvem de fumaça azul, explode o motor do “Puma” verde dele, bem na saída do Laranjinha. Bandeira amarela localizada, e começo a imaginar que possa estar bem classificado, com possibilidade, quem sabe, até de arrumar um lugarzinho no pódio. Sem rádio, sem placas de box, e nem sempre vendo os carros da frente quebrarem, ou pararem nos boxes, não temos uma idéia exata do nosso posicionamento na prova. Mas julgava que não estava mal. Ultrapassei alguns retardatários, e passei incólume pelas rodadas dos Puma números 19 e 67. Será que pegaria mesmo um pódio? Logo na prova na qual minha família estava presente, e na véspera de completar 60 anos? Seria bom demais! Sob a torre do diretor de prova, a placa indica que faltam só 3 voltas para o final.

Olho pelo espelho, e não vejo ninguém próximo que pudesse me ameaçar. Pela primeira vez então, coloco em prática algo que cansei de ouvir dos locutores esportivos, mas nunca tivera a oportunidade de fazer: “Administrar a posição”. Já no S do Senna, freio nos 100 metros e contorno a curva mais devagar. A mesma coisa na Curva do Lago. Devo ter aumentado o tempo de volta em uns dois a três segundos. Faltando uma volta, tirei mesmo o pé, e o miolo foi feito com todo o cuidado, e total atenção. Mesmo assim, cruzei 8.6 segundos à frente do Chevette do Fernando Mello. Bandeira quadriculada agitada, e atravessei a linha de chegada! Nessa corrida deu para reparar em muita coisa. Nos fiscais, nos instrumentos, em algumas pessoas conhecidas no muro dos boxes, e até na expressão do camarada que deu a bandeirada. Acho que estou mesmo me acostumando. Afinal, com esta, são seis corridas disputadas, sem contar a primeira que não larguei. Cumprimento os bandeirinhas na volta de desaceleração, e recolho para os boxes. Desta vez, também por conta da bagunça da direção de prova, não houve parque fechado para os carros, o que sempre acontece. Nem após o treino de classificação, nem após a chegada da corrida. O parque fechado é um local cercado para onde os carros são recolhidos imediatamente após esses dois eventos, e ficam à disposição dos fiscais para qualquer eventual vistoria, ou reclamação de pilotos e/ou equipes. Além dos fiscais, não podem ser tocados por ninguém mais, principalmente por mecânicos, ou ter qualquer das suas características alteradas. Estando tudo de acordo, e não havendo reclamações, os carros são liberados para retornar aos seus boxes.
Vou chegando devagar, e paro bem em frente ao box 21. Dou um tapinha de agradecimento na Brasinha pelo seu excelente desempenho, por ter cuidado bem de mim, e me trazido de volta são e salvo. O meca Rafael, todo sorridente, me ajuda a desamarrar o cinto e a saltar do carro. Tiro as luvas, o capacete e a balaclava. Puxa vida, que calor! Abraços, parabéns, beijo da mulher e da filha, e… não sabemos ainda exatamente em que posição cheguei! Nisso, o locutor oficial começa a cantar, pelos alto-falantes, os nomes dos pilotos das diversas categorias que devem comparecer imediatamente ao pódio: “…Em quarto lugar na Divisão 3, Hugo Borghi Filho com a Brasília de número 71,…”! Uhuuuu!!! Primeiro pódio! Que presentão de aniversário! Cristina, Manoela e eu, caminhamos juntamente com o Gulla, o vencedor da prova, em direção ao local da premiação. Vamos bebendo água nas garrafinhas de plástico pois a temperatura dentro do carro, com toda a paramentação, e o esforço de dirigir quase 30 minutos totalmente concentrado, no limite, desidrata um bocado.
Lá em cima, onde fica o pódio, está uma festa. Com seis premiados em três categorias, só de pilotos somos 18. Com mais família, namoradas, amigos, mecânicos, outros colegas pilotos, dirigentes, autoridades, agregados, e curiosos, é uma verdadeira multidão! Do outro lado do pit lane, numa plataforma especial, ficam os fotógrafos com as suas teles apontando para a gente. Em baixo, todo o resto do pessoal que resolveu assistir à premiação. Um pódio bonitão, já estava armado para a prova da Mil Milhas que iria acontecer no dia seguinte, e foi este que utilizamos. Aplaudimos e festejamos os pilotos das divisões 1 e 2 que são premiados antes de nós. Fujo e me escondo atrás de uma coluna para evitar o banho de Champagne deles que tem um cheiro doce, forte, e bem esquisito. Finalmente chega a nossa vez! O locutor vai chamando do sexto ao primeiro. Carlos Braz, meu ferrenho adversário de Londrina, Fernando Mello, eu, Paulo Souza, Wanderley Natali, e o grande vencedor, Sebastião Gulla. Recebemos nossas taças. A minha, me foi entregue pela Manoela. Que coisa legal!

Fazemos pose, levantamos os troféus, e em seguida, depositam uma enorme garrafa de vidro azul escuro aos nossos pés. No rótulo, ao invés de Champagne, lê-se: “Fermentado de Frutas Gaseificado – Brindespuma Piagentini – Fórmula 1 – 2 litros”. Pego a minha, como lembrança, e saio correndo com cuidado. Vai que aquilo abre…

BALANÇO DE 2008
Foi um bom “ano automobilístico”.

Participamos a Brasinha e eu de sete corridas, se bem que, nem largamos na primeira apesar de termos treinado bastante para aquela prova. Fui para a pista do “templo” no início do ano cheio de receios e de dúvidas pelo desconhecido. Começamos virando em 2:21. Treinamos, derrapamos, rodamos, e até batemos, na busca pelo melhor desempenho. Treinamos mais, e fui me entendendo melhor com o # 71 e com o traçado de Interlagos. Errando menos. Treinamos mais ainda, e somando-se a isso às voltas dadas durante as corridas, foi um monte tempo passado na pista, pisando fundo. Por causa disso baixamos o tempo para 2:07, ou 14 segundos a menos do que no início, sem porém comprometer a segurança nem o equipamento. Fizemos pequeníssimas modificações no carro durante o ano, principalmente em acertos de suspensão. O carro já nasceu bom. O cuidado e o capricho da LF na “reconstrução” da Brasinha desde o início, foi fundamental para isso. A excelente manutenção após cada corrida por parte do Nenê, e dos mecas, permitiu ter sempre um carrinho competitivo, e confiável a cada prova. O carinho do Nenê, suas dicas, cuidado, e observações foram fundamentais para uma primeira temporada, apesar de não ter participado de todas as provas, muito feliz.

Nosso motor, se bem que não tendo toda a potência de alguns dos adversários, com pelo menos uns 30 cv. a menos que os ponteiros, se comportou impecavelmente durante toda a temporada, e permitiu levar umas tacinhas para casa. Nunca passei das rotações programadas, e sempre o tratei com carinho, suavemente. Mas o mérito todo é de quem o montou, o preparador-piloto-amigo Fábio Coelho.

Apanhamos um pouquinho no início com a carburação até descobrirmos que um dos Weber, apesar de ambos serem novinhos em folha, era completamente diferente do outro internamente. Se as quebras do câmbio foram excessivas durante o ano, acho que isso foi definitivamente sanado com as últimas providências adotadas de modificações na altura da traseira. Ainda estamos esperando pela barra estabilizadora dianteira, sugerida pelo Bob Sharp, e que está sendo confeccionada. Fica para 2009. Corremos em Londrina, uma pista desconhecida e bastante técnica, na qual, diferentemente de Interlagos, não havia feito “escolinha”. Encontrei os limites do carro e da pista sem maiores sustos. Tenho certeza de que teremos um desempenho bem melhor lá na próxima vez. Gostaria de experimentar também as pistas de Curitiba, Cascavel, Tarumã, e de Santa Cruz do Sul. Agora, prazer mesmo, teria em correr no Rio. Mesmo que fosse só no que sobrou da pista de Jacarepaguá.
Acho que, de certa forma, um círculo de 40 anos estaria se fechando. Quem sabe?
Mas o mais importante de tudo isso, foi o que ocorreu fora das pistas. Foi onde fiz boas, sinceras, e espero que duradouras amizades, com um grupo de pessoas muito especial. Pessoas completamente diferentes entre si, porém sempre gentis, receptivas, carinhosas, e unidas por uma enorme paixão em comum pelo automobilismo. Sem os seus conselhos, dicas, empréstimo de peças em situações de emergência, palavras de apoio, e de encorajamento, o aprendizado teria sido mais difícil.
Obrigado e até o ano que vem, se Deus quiser, meus amigos!
Hugo Borghi

Nota do Blog: Calma gante, continuaremos a falar das aventuras dos pilotos da Classic Cup…o próximo que está para sair da toca é o “Trovão Azul”…já ele acelera aqui!
É isso…

Saloma

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

28 comentários em “DIÁRIOS DO HUGO #21

  • 14 de maio de 2009 em 10:10
    Permalink

    Dr. OKRASA – COMPADRE:

    Pô chefe! Desventura é desgraça e má sorte! Eu hein… sai prá lá, xô!
    Foram, e estão sendo, momentos mágicos de puro prazer, divertimento, total alegria e felicidade !!! (até quando quebra o câmbio!)
    Todos na Classic Cup pensam assim.

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 10:10
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    Dr. OKRASA – COMPADRE:

    Pô chefe! Desventura é desgraça e má sorte! Eu hein… sai prá lá, xô!
    Foram, e estão sendo, momentos mágicos de puro prazer, divertimento, total alegria e felicidade !!! (até quando quebra o câmbio!)
    Todos na Classic Cup pensam assim.

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 13:29
    Permalink

    Parabéns !!!!!!!!

    Lendo seu relato, tive a nitida sensação de estar sentado no banco do passageiro da “BRASINHA”. Um verdadeiro Show !!!!

    Um forte abraço, Guerrando Jr.

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 13:29
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    Parabéns !!!!!!!!

    Lendo seu relato, tive a nitida sensação de estar sentado no banco do passageiro da “BRASINHA”. Um verdadeiro Show !!!!

    Um forte abraço, Guerrando Jr.

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 15:52
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    Grandes relatos, como sempre.

    Saloma…

    Você chegou a ir no evento lá na FEI??? Fui só no segundo dia, mas valeu por tudo nessa vida. Conversei com o grande Bird…. Inesquecível…

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 15:52
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    Grandes relatos, como sempre.

    Saloma…

    Você chegou a ir no evento lá na FEI??? Fui só no segundo dia, mas valeu por tudo nessa vida. Conversei com o grande Bird…. Inesquecível…

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 17:46
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    Não fui Felipão. Quarta e quinta é punk para o compadre aqui na labuta. Tenho que trabalhar e gerenciar 3 blogs; é muita coisa! Agora uma coisa me chamou atenção. Os caras que pretendem navegar na nossa seara, não fazem a lição de casa. Não tem jeito. Em conversa reservada com uns blogueiros da área e que não participaram do evento e manjam pacas, a chamada com os nomes dos carros está um absurdo de errada…NUNCA EXISTIU BINO MARK I! É só Mark I…(qualquer dúvida sobre, entre lá no Saloma e peça para pesquisar sobre, que tem uma história muito legal sobre tal) isso provoca um certo descrédito na bagaça. Mas aí é outra história. Depois manda um relato sobre o que vc achou do evento, que publico no blog com fotos…
    abs
    LS

    Resposta
  • 14 de maio de 2009 em 17:46
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    Não fui Felipão. Quarta e quinta é punk para o compadre aqui na labuta. Tenho que trabalhar e gerenciar 3 blogs; é muita coisa! Agora uma coisa me chamou atenção. Os caras que pretendem navegar na nossa seara, não fazem a lição de casa. Não tem jeito. Em conversa reservada com uns blogueiros da área e que não participaram do evento e manjam pacas, a chamada com os nomes dos carros está um absurdo de errada…NUNCA EXISTIU BINO MARK I! É só Mark I…(qualquer dúvida sobre, entre lá no Saloma e peça para pesquisar sobre, que tem uma história muito legal sobre tal) isso provoca um certo descrédito na bagaça. Mas aí é outra história. Depois manda um relato sobre o que vc achou do evento, que publico no blog com fotos…
    abs
    LS

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 09:36
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    Isso é verdade Saloma. Ahhh mandei no seu email do ajato… Se não chegar, me avise… abração…

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 09:36
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    Isso é verdade Saloma. Ahhh mandei no seu email do ajato… Se não chegar, me avise… abração…

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 11:59
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    Felipão, mande no email do gmail…
    abs

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 11:59
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    Felipão, mande no email do gmail…
    abs

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 20:08
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    No post sobre o café GP aí abaixo há uma foto tirada dentro do “Seu Chico”, com outra foto ao fundo do Francis Ford Coppolla,o cineasta.
    O Hugo é Borghi,também italiano,e narra passagens da vida como se fossem filmes.
    Alguém já reparou no quanto os dois se parecem físicamente? Algum parentesco Hugo?

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 20:08
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    No post sobre o café GP aí abaixo há uma foto tirada dentro do “Seu Chico”, com outra foto ao fundo do Francis Ford Coppolla,o cineasta.
    O Hugo é Borghi,também italiano,e narra passagens da vida como se fossem filmes.
    Alguém já reparou no quanto os dois se parecem físicamente? Algum parentesco Hugo?

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 22:16
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    GUERRANDO PALEI JUNIOR:

    Obrigado Guerrando.
    Interrompendo o chat aí do pessoal, te agradeço pelas gentís palavras.
    Abração.
    Hugo

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 22:16
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    GUERRANDO PALEI JUNIOR:

    Obrigado Guerrando.
    Interrompendo o chat aí do pessoal, te agradeço pelas gentís palavras.
    Abração.
    Hugo

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  • 15 de maio de 2009 em 23:42
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    Hugo Borghi
    Acompanhei as provas que voce relatou e foi sensacional. Foi como esta ali na pista, acompanhando cada uma das provas.

    Parabens pelo texto de alta qualidade e tambem pela atuação com piloto.

    Parabens

    Resposta
  • 15 de maio de 2009 em 23:42
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    Hugo Borghi
    Acompanhei as provas que voce relatou e foi sensacional. Foi como esta ali na pista, acompanhando cada uma das provas.

    Parabens pelo texto de alta qualidade e tambem pela atuação com piloto.

    Parabens

    Resposta
  • 16 de maio de 2009 em 01:55
    Permalink

    RUI AMARAL:
    Obrigado Rui, valeu. Ainda mais, vindo de quem vem!

    BELAIR:
    Deve ser pelo porte e pela barba… Parentesco temos não… Quem me dera! Além de genial cineasta, o camarada possui uma vinícola de se tirar o chapéu. Acho que só temos em comum gostar de um charutinho de quando em vez…

    SYLVIO S. MONTEIRO FILHO:
    Obrigado amigo. Foram (até então) 6 corridas muito bem “curtidas”.

    Resposta
  • 16 de maio de 2009 em 01:55
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    RUI AMARAL:
    Obrigado Rui, valeu. Ainda mais, vindo de quem vem!

    BELAIR:
    Deve ser pelo porte e pela barba… Parentesco temos não… Quem me dera! Além de genial cineasta, o camarada possui uma vinícola de se tirar o chapéu. Acho que só temos em comum gostar de um charutinho de quando em vez…

    SYLVIO S. MONTEIRO FILHO:
    Obrigado amigo. Foram (até então) 6 corridas muito bem “curtidas”.

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  • 17 de maio de 2009 em 12:11
    Permalink

    Não lembro de nenhum piloto jamais ter escrito algo assim.
    Nos anos 70 o que tínhamos eram as reportagens na 4Rodas do Emerson, com a descrição suscinta das provas e treinos.
    Mas um mergulho fundo assim, nunca.
    Muito legal a iniciativa do Saloma e a dedicação do Hugo.
    Podem ter certeza que muitos e muitos dos que leem aqui já estão com o pézinho direito coçando, e babando para entrar nessa festa que é uma corrida de carro.

    Resposta
  • 17 de maio de 2009 em 12:11
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    Não lembro de nenhum piloto jamais ter escrito algo assim.
    Nos anos 70 o que tínhamos eram as reportagens na 4Rodas do Emerson, com a descrição suscinta das provas e treinos.
    Mas um mergulho fundo assim, nunca.
    Muito legal a iniciativa do Saloma e a dedicação do Hugo.
    Podem ter certeza que muitos e muitos dos que leem aqui já estão com o pézinho direito coçando, e babando para entrar nessa festa que é uma corrida de carro.

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  • 17 de maio de 2009 em 22:25
    Permalink

    CORREÇÃO:

    Me enganei na parte que descrevo terem sido o Nenê de Topolino e o Magnusson que largaram de trás e nos ultrapassaram na primeira volta.
    Isso aconteceu em outra ocasião. Nesta prova foi o Malanga que teve problemas em fazer seu carro pegar no grid, e saindo numa das últimas posições, veio costurando para reassumir seu lugar na pole durante a volta de apresentação. Acho que o regulamento nem permite isso, mas como nessa prova tava valendo quase tudo…

    Resposta
  • 17 de maio de 2009 em 22:25
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    CORREÇÃO:

    Me enganei na parte que descrevo terem sido o Nenê de Topolino e o Magnusson que largaram de trás e nos ultrapassaram na primeira volta.
    Isso aconteceu em outra ocasião. Nesta prova foi o Malanga que teve problemas em fazer seu carro pegar no grid, e saindo numa das últimas posições, veio costurando para reassumir seu lugar na pole durante a volta de apresentação. Acho que o regulamento nem permite isso, mas como nessa prova tava valendo quase tudo…

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  • 22 de maio de 2009 em 03:03
    Permalink

    Caro Hugo,
    Se não surgir nada melhor (o que acho bem provável…) usarei tuas gentis linhas sobre minha performance nessa corrida, minha primeira e única vitória, para meu epitáfio:
    “E em nono, uma posição antes de mim, o simpático semi-novato Roberto Agresti com o surpreendentemente rápido Puma D2 prata número 22, em 2:7.0 “duros”, portanto, o pole da sua divisão.”

    Grande! Mostrarei para minhas filhas, amigos, mulheres… para a humanidade!!!

    Abraço e até dia 30!

    Resposta
  • 22 de maio de 2009 em 03:03
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    Caro Hugo,
    Se não surgir nada melhor (o que acho bem provável…) usarei tuas gentis linhas sobre minha performance nessa corrida, minha primeira e única vitória, para meu epitáfio:
    “E em nono, uma posição antes de mim, o simpático semi-novato Roberto Agresti com o surpreendentemente rápido Puma D2 prata número 22, em 2:7.0 “duros”, portanto, o pole da sua divisão.”

    Grande! Mostrarei para minhas filhas, amigos, mulheres… para a humanidade!!!

    Abraço e até dia 30!

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