"UMAS & OUTRAS" #24…

A SAGA DA LOLA T-70
Joaquim Lopes Filho

Talvez nenhum fabricante de carros de competição hoje em dia possa exibir o cartel apresentado pela Lola Cars. Desde a sua fundação até os dias atuais a fábrica inglesa praticamente construiu carros para todas as categorias mundiais, com pouquíssimas exceções. Quanto aos resultados, a história é outra, mas não invalida o mérito da fábrica de ter se mantido até hoje, quando muitas mais famosas sucumbiram pelo caminho. Mas voltemos ao início para entender um pouco da história das Lolas T-70.

1957, o início da Lola

O primeiro modelo de Eric Broadley foi o “Broadley Special”, construído em 1957, um monoposto de motor Ford dianteiro de 1.172 cc para uma categoria intitulada “750 Motor Club”, onde pontificavam os Austin Seven. O sucesso do carro nas mãos de Broadley e seu primo Graham, o levou à construção de outra unidade com motor Coventry Clímax, carro este que serviu de base para o vitorioso modelo Mark I.

Broadley Special, o primeiro carro

Um ano depois, 1958, juntando suas economias, Broadley funda a Lola Cars e lança o modelo Mark I, um biposto spyder na melhor tradição clubmen dos carros esporte ingleses e que seria nos próximos quatro anos seu maior sucesso como construtor. O grande gancho do Mark 1 era sua flexibilidade no tocante à configuração mecânica podendo o comprador escolher motor (normalmente o velho e bom Coventry-Climax de 1098 cc), caixas de câmbio, rodas e pneus de acordo com seu orçamento.

Lola Mark 1, primeiro sucesso de vendas

O sucesso do Mark 1 foi imediato, o que possibilitou a construção de trinta e cinco unidades e logo se tornando também o maior desafiante de carros já consagrados como o Elva e o Lótus 30. Entre seus méritos assinala-se ser o primeiro carro a rodar abaixo de um minuto em Brands Hatch na categoria.

A estréia nos monopostos

Logo a Lola Cars adentrou também o exclusivo mundo dos monopostos com o MK2, conhecido também como “Mini-Vanwall”, um Fórmula Jr com motor dianteiro de 998 cc e quatro marchas, mas ao contrário do ocorrido com o MK1 Sport Car, o carro não foi páreo para os mais bem desenvolvidos Cooper T56 e Lótus 20 na temporada de 1960.
Já o modelo MK3 de 1961 era que uma completa revisão dos conceitos do modelo anterior, apresentando novo chassi tubular, motor traseiro e caixa Hewland de cinco velocidades.

Lola Fórmula Jr. “Mini Vanwall”, 1960

Apesar do novo desenho, o carro demonstrou ser parco de resultados, com Bradley admitindo ser um de seus piores projetos.
Em 1962, somente quatro anos depois de fundada, a Lola Cars desponta na Fórmula Um – que, na época, não gozava de tanto prestígio como atualmente, perdendo feio neste quesito para os carros esporte e GT – com o modelo MK4, feito sob encomenda de Reg Parnell e que com John Surtees e Roy Salvadori ao volante, logrou uma pole position no GP da Holanda e uma vitória numa prova extra-campeonato em Mallory Park, entr3 outros bons resultados.

Lola MK4 F-Um, motor Clímax V-8: John Surtees vence em Mallory Park

O Lola MK4 na linha de montagem

Os modelos seguintes, o MK5 e MK5A de Fórmula Jr, já em 1963, eram um aprimoramento do malfadado MK3, mas que devidamente acertados proporcionaram uma série de vitórias significativas sob os comandos de pilotos do nível de Richard Attwood na preliminar do GP de Mônaco, John Hine (este no futuro um dos maiores desafiantes das Lolas na categoria 2 litros, a bordo do não menos famoso Chevron), e do francês Eric Offenstadt.
Curiosamente, em 1964, quando foi lançada a Fórmula 3 na Europa com motores restritos a um litro em substituição à Fórmula Jr., a categoria não foi uma das prioridades da Lola Cars, tendo esta construído somente uma unidade e que nada mais era do que uma adaptação do F-Jr MK5A, de pouco sucesso. A Fórmula Três é uma das categorias em que a Lola pouco se interessou, talvez devido ao seu envolvimento e sucesso com os sport-cars a partir de 1965.

O MK6, o precursor do GT-40

Como já dito aqui anteriormente, no início dos anos 60 as corridas de carros esporte e GT rivalizavam em prestígio com a Fórmula Um e qualquer fabricante que se prezasse não podia ignorar este mercado.
Assim, a Lola Cars lança o seu modelo MK6, um sport car fechado, dois lugares equipado com motor Ford de 4.2 litros. O carro foi apresentado no London Racing Car Show em janeiro de 1963, atraindo a atenção do público e, mais importante, da Ford Motor Company.

Eric Broadley, John Wyer e o Lola MK6, 1963

O carro participa também naquele ano das 24 Horas de Le Mans com a dupla David Hobbs/Richard Attwood, quebrando nas primeiras horas da manhã, depois de ter sido conduzido rodando pelas estradas de Slough até La Sarthe, um feito naquela época para um carro de corrida, muito explorado publicitariamente.
As soluções do carro – dimensões reduzidas, chassi semi-monocoque, motor central, a simplicidade de formas – levaram a Ford a convidar Eric Broadley para cooperar no projeto do então nascente GT-40, preterindo o candidato natural, Colin Chapman e o projeto do Lótus 47, o que seria a escolha esperada.

Lola MK6 em Le Mans, 1963

Com o fracasso da compra da Ferrari pela Ford, a montadora americana aposta fortemente na construção de um protótipo high tech (para os padrões da época), um projeto em computador e testes em túnel de vento, enquanto a motorização viria dos já bem testados V-8 da Stock Car em contraposição à tradição européia de desenhos em pranchetas e acertos de pista.
Com um enorme staff de engenheiros e técnicos americanos pouco afeitos ao modus operandi do inglês, não demorou muito para que Eric Broadley entrasse em conflito com o restante da equipe, abandonando o projeto no final de 1965, reclamando que o GT-40 era “um carro de comitê…”!
A cooperação com os americanos serviu também para abrir os olhos de Broadley para o enorme potencial financeiro das corridas de “big bangers”, protótipos com enormes motores V-8 de cinco a sete litros, promovidas pela USSCR no Canadá e EUA e que seriam mundialmente conhecidas como a milionária Série Can Am.
Assim, livre das interferências dos americanos e em estreita cooperação com o ex-campeão mundial de F-Um, John Surtees, Eric Broadley desenvolve o projeto de um novo spyder ainda fortemente influenciado pelo MK6 GT, mas refinado com as idéias do GT-40.

Nasce a Lola T-70

O resultado é o Lola T-70 MK1 Roadster, um spyder com forte referência ao seu primeiro carro vencedor, mas equipado com um poderoso motor Chevy V-8 de 5 litros com preparação Traco, apresentado em 1965 e logo adotado por algumas equipes americanas
Mas é com a versão seguinte, a MK2, que vem a consagração do modelo T-70 com John Surtees vencendo cinco das seis corridas da primeira temporada da Can Am Séries, abiscoitando a fabulosa quantia de 50.000 dólares na época.
Para efeito de comparação, uma vitória na Fórmula Um rendia cerca de 5.000 dólares para a equipe que, após descontadas os prêmios para mecânicos, despesas, etc, deixava um saldo médio de apenas 1.000 dólares para o piloto!

John Surtees e a Lola T-70 Mk2, Can Am, 1966

O Lola T-70 MK2 rapidamente torna-se um dos carros de eleição no rico mercado norte-americano o que anima também Eric Broadley a tentar uma nova versão fechada do Lola T-70 com vistas ao prestigiado – mas não tão bem remunerado – mercado europeu.
Assim, novamente no London Racing Car Show, janeiro de 1967, é apresentado o Lola T-70 MK3 GT, equipado com motor V-8 Aston Martin de 5 litros e meros 380 HP, mas que cujas linhas arredondadas e fluidas, terminando numa traseira abrupta, causaram sensação….
Mas isto é assunto para a próxima coluna…

Joaquim, Joca, ou “Anexo J” do Boteco do Saloma
Ex-comissário desportivo da FIA, foi fundador, presidente e diretor técnico de kart clube, rali, arrancada e dirigente de federação de automobilismo.
Titular da coluna “Umas&Outras”, escreve regularmente neste espaço às segundas feiras.
(reprodução/fotos Lola Archive)

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

16 comentários em “"UMAS & OUTRAS" #24…

  • 4 de agosto de 2008 em 13:53
    Permalink

    Parabéns pela belíssima aula Mestre Joaquim. Fico no aguardo da segunda parte.
    grande abraço.

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 13:53
    Permalink

    Parabéns pela belíssima aula Mestre Joaquim. Fico no aguardo da segunda parte.
    grande abraço.

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 16:46
    Permalink

    Obrigado Mestre, aguardo o próximo capítulo. Ahistória da Lola é fascinante.

    Valeu Mestre.

    Abraço

    Barba

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 16:46
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    Obrigado Mestre, aguardo o próximo capítulo. Ahistória da Lola é fascinante.

    Valeu Mestre.

    Abraço

    Barba

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 19:06
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    É verdade Mestre Joca ,o Broadley não deu certo com o sistema da Ford ,enquanto ele pensava em um monocoque em aluminio o grupo ligado diretamente a Ford exigiu que o chassi fosse em aço ,eles já imaginavam uma produção em serie aproveitando a propaganda e retorno do carro nas competições .

    Deve ter sido um duro golpe para Broadley ,ele devia imaginar que poderia escolher qualquer caminho com o poderio financeiro da Ford ,não deve ter pensado no pragmatismo comercial americano.

    O primeiro prototipo do GT40 é quase uma copia do MK6 ,era lindo ,mas o resultado final esteticamente do GT40 foi maravilhoso.

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 19:06
    Permalink

    É verdade Mestre Joca ,o Broadley não deu certo com o sistema da Ford ,enquanto ele pensava em um monocoque em aluminio o grupo ligado diretamente a Ford exigiu que o chassi fosse em aço ,eles já imaginavam uma produção em serie aproveitando a propaganda e retorno do carro nas competições .

    Deve ter sido um duro golpe para Broadley ,ele devia imaginar que poderia escolher qualquer caminho com o poderio financeiro da Ford ,não deve ter pensado no pragmatismo comercial americano.

    O primeiro prototipo do GT40 é quase uma copia do MK6 ,era lindo ,mas o resultado final esteticamente do GT40 foi maravilhoso.

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 19:07
    Permalink

    Joaquim,
    Não sabia que a Lola existia desde 1957 e me parece que eles constroem carros para os Formulas Indy ou IRL.
    Parabens pela matéria.
    Jovino

    Resposta
  • 4 de agosto de 2008 em 19:07
    Permalink

    Joaquim,
    Não sabia que a Lola existia desde 1957 e me parece que eles constroem carros para os Formulas Indy ou IRL.
    Parabens pela matéria.
    Jovino

    Resposta
  • 5 de agosto de 2008 em 10:01
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    As vezes publicamos algo sobre Lolas e mal sabemos a hidtória, graças a você Joaquim passamos a entender melhor, parabéns ótima aula de automobilismo.

    ABS.

    Resposta
  • 5 de agosto de 2008 em 10:01
    Permalink

    As vezes publicamos algo sobre Lolas e mal sabemos a hidtória, graças a você Joaquim passamos a entender melhor, parabéns ótima aula de automobilismo.

    ABS.

    Resposta
  • 5 de agosto de 2008 em 15:14
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    Eita fonte de informação de primeira… aulas e mais aulas com o grande mestre… aliás, realmente a Lola atravessa as décadas e tá sempre ali, competindo…

    No aguardo de mais história…

    Resposta
  • 5 de agosto de 2008 em 15:14
    Permalink

    Eita fonte de informação de primeira… aulas e mais aulas com o grande mestre… aliás, realmente a Lola atravessa as décadas e tá sempre ali, competindo…

    No aguardo de mais história…

    Resposta

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