DIÁRIOS DO HUGO #11…

ESCOLINHA
Hugo Borghi

Dia da 1ª. aula, uma névoa fininha cobria a pista e o dia prometia ser bonito. Toninho me recebeu como a um velho amigo e me apresentou ao Nélson Alexandre meu “personal”! Simpático como ele só, beirando os 50 anos, experiente e cheio de histórias de corridas para contar.

Como eu vinha do Rio, e para poupar viagens, resolvemos que os tempos de aula seriam esticados, e o curso reduzido em um dia. Com isso, eu acumularia mais tempo de pista por aula. O cursinho começa com uma hora e meia de aula teórica. Éramos uns 8 alunos, e nos sentamos em frente a um enorme desenho do traçado de Interlagos. Os professores, todos pilotos tarimbados, pacientemente começam explicando o “bê a bá” da coisa. Noções básicas de pilotagem, comportamento de um carro de corridas, aceleração, frenagem, dicas e “causos”. Curva por curva, mostram os pontos de desaceleração, frenagem, tomada, tangência e saída. Cones de cores diversas são colocados na beira da pista para indicar esses pontos. Depois de um pequeno “break”, era a hora de ir para pista. Primeiramente, num Ford Fiesta menos brabo que os Palio, calçado com radiais, e também mais silencioso (mas só um pouquinho), para que, piloto e aluno, possam se ouvir. Como passageiro, ia vendo e ouvindo o que me era dito a cada ponto importante do traçado. Fomos aumentando progressivamente a velocidade até descobrir o limite do carro nas diferentes curvas.
Propositalmente abusamos um pouquinho, e imediatamente, o carrinho atravessava ou então, perdia-se o ponto de frenagem. Em seguida, mais uns 15 minutos no quadro negro revendo o que tinha sido feito. Na meia hora seguinte trocamos de posição, e o Nélson, agora como passageiro, ia me cantando as jogadas. Da mesma maneira que antes, começamos lentamente e fomos acelerando aos poucos. Depois de umas 5 voltas já dá pra começar a entender a pista e o carro. Lá pela 10ª. , já dá até pra se engraçar um pouquinho… Umas 3 voltas, agora de Palio, e como passageiro, pra sentir a barra de verdade e ficar com o gostinho, e… aula finda.
Me senti muito bem, tranquilo e relaxado o tempo todo. Voltei pra casa ansioso pela próxima, dali a duas semanas!
Apesar do tempo, parecer não ter querido passar, finalmente chegou o dia da aula 2.
Mais umas voltinhas de Fiesta para relembrar tudo novamente, e então fomos para os Palio. Carro nervoso e com um ronco ensurdecedor, maravilhoso! Comecei como carona, e depois trocamos. Pouco a pouco fui me entendendo com o carro e com a pista. Nossa, como grudam no chão esses tais de slick! Que diferença dos radiais. Parece chiclete. Apesar de ir aumentando a velocidade volta a volta, o carrinho não derrapava. Me fez lembrar um autorama. No limite, sai um pouquinho de frente.
“Break”, com sanduíche, Coca-Cola e quadro negro, revendo os feitos até então. Na segunda parte do dia, finalmente, solo!
O Nélson vai na frente em um outro Palio, e eu o sigo no “meu”, tentando imitar o traçado dele. A velocidade vai aumentando. Quando você erra, ele diminui. Se você não erra, ele vai acelerando. De repente, conforme o combinado, ele acena para que o ultrapasse. Agora ele te segue, analisando o teu comportamento. Se você erra, ele gruda na tua traseira, e se você vai indo bem, ele se afasta. Depois de dezenas de voltas, não consegui engatar a terceira marcha na freada da Junção, e entrei na curva, em ponto morto. Resultado? Uma bela rodada pela grama, terminando virado ao contrário, de volta no asfalto. Aprendi mais uma: Se o carro escapa, e sai da pista, não tente virar logo o volante para faze-lo voltar imediatamente. Isso provoca a rodada. Se não houver nenhum obstáculo maior, deixe o carro seguir mais um pouco, e retorne suavemente para a pista, mais adiante, num ângulo menor possível em relação a ela. Recolhi para os boxes. Estava terminada a brincadeira por hoje!

Na aula seguinte, havia chovido muito na véspera. Na parte da manhã treinamos com a pista ainda bem molhada. Uma excelente oportunidade de aprender coisas novas. Vai que chove numa prova e você não tem a mínima idéia do que fazer? No molhado, muda tudo.
Tem-se que fazer um traçado oposto ao que faz em pista seca. Se no seco você segue a trilha mais escura e emborrachada, no molhado se fizer isso, sai rodando que nem pião. Se no seco, você sobe na zebra, tangenciando a curva ao máximo, no molhado fique longe dela, porque a tinta que forma o zebrado parece feita de sabão com graxa! O mesmo ocorre com as faixas pintadas de branco.
Na parte da tarde a pista já havia secado quase por completo. Alguns pontos do miolo, porém, ainda estavam bastante úmidos. Enquanto a maioria não estava gostando muito das condições, eu estava adorando! Com a pista úmida o Palio que saia de frente, ficou mais neutro, saindo um pouquinho de traseira bem no limite. Como eu gosto. Resultado? Virei seguidamente em 2:12, o melhor tempo do dia e daquele curso. Só uns 7 ou 8 segundos a menos que os professores, naquelas condições, o que me qualificou para obter uma carteira de piloto da CBA graduado B, já na terceira aula.
Todo prosa, e com a carteira de piloto assegurada, levei um mês e meio para comparecer à próxima aula. Afinal, tinha também que dar um refresco nas despesas de ir toda hora para São Paulo. Minha turma já havia terminado, e encontrei um novo grupo. O Nélson Alexandre, meu “personal”, estava agora ocupado com outro aluno. O Toninho, sempre gentilíssimo, me disse: “Pega o Fiesta aí, e vai dar umas voltas para esquentar. Dê quantas quiser. Depois experimenta esse Renault Clio 2.0 francês que é o nosso Pace-Car das provas do Brasileiro. Veja só que canhão! Não vai bater ele, né? Senão a gente fica sem carro pra próxima etapa!” Obedeci. Dei um monte de voltas com o Fiesta, e mais um monte com o Renault que era mesmo um canhão. Não apertei muito, e nem estava tentando ser muito rápido. Só treinando manso e conhecendo a pista cada vez mais. Incrível como sempre se descobre um detalhe novo. Na parte da tarde, o Toninho me designou um outro “personal”. Um rapaz novo, com um brinco na orelha, que corria no Brasileiro de Marcas. Não me lembro do nome dele, e bem que queria esquecer também aquela parte da tarde. Sabe quando dá tudo errado? Quanto mais você quer acertar, mais erra? Pois é… Foi assim naquele dia. Saímos de Palio, com o rapaz de carona. Já não era mais o “meu” Palio de antes, o de número 10 amarelo e meu amigo. Era um azul, feioso, com um banco concha apertado, na qual não cabia minha bunda direito. Os pedais também não estavam exatamente na distância certa. O rapaz não era lá essa simpatia toda, e eu…., estava uma tragédia! Cometia erros grosseiros, fazia besteira atrás de besteira. O rapaz me olhava de banda, e tentava sem muito sucesso, melhorar minha performance. Depois de umas 10 voltas entrei para o box, parei, tirei o capacete, e disse para o rapaz: “Olha, você com certeza não vai acreditar, mas eu não sou tão ruim assim sempre não. Já virei 2:12, obtive minha carteira e estou indo embora. Muito obrigado, e tchau!”
Ele deve ter ficado lá pensando qual tinha sido o louco irresponsável que dera uma carteira de piloto pra aquele velho barbeiro que não dava uma dentro…
Fim da história da escolinha de pilotagem. Até hoje, quando encontro o Toninho na pista, brinco que ele me deve ainda uma aula.
Desde esse dia, fiquei exatamente um ano sem pilotar.
Foi o período da escolha, compra, e preparação do carro.
Hugo Borghi

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

22 comentários em “DIÁRIOS DO HUGO #11…

  • 9 de abril de 2009 em 10:36
    Permalink

    Pois é Hugo.
    Creio que todos nós temos aqueles dias que nem o carro de uso conseguimos conduzir pelas ruas com um minimo de competência. Coisa inexplicável diga-se. Carro de corrida então, deve ser um complicômetro adicional, inda mais se não está ajeitado nem pra bunda. E se do lado estiver um carinha que se julga, sei lá, reencarnação do Nuvollari ( o Cerega vai querer me matar), fica pior ainda.
    Mas, muito interessante seu periodo de aluno. Eu estou querendo fazer o curso pruma reciclada no segundo semestre. Vamos ver, vamos ver…

    Resposta
  • 9 de abril de 2009 em 10:36
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    Pois é Hugo.
    Creio que todos nós temos aqueles dias que nem o carro de uso conseguimos conduzir pelas ruas com um minimo de competência. Coisa inexplicável diga-se. Carro de corrida então, deve ser um complicômetro adicional, inda mais se não está ajeitado nem pra bunda. E se do lado estiver um carinha que se julga, sei lá, reencarnação do Nuvollari ( o Cerega vai querer me matar), fica pior ainda.
    Mas, muito interessante seu periodo de aluno. Eu estou querendo fazer o curso pruma reciclada no segundo semestre. Vamos ver, vamos ver…

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  • 9 de abril de 2009 em 12:05
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    REGI NAT ROCK:

    Vale a pena! É muito bem feitinho, e não economizam tempo na pista. Os carrinhos estão em boa ordem, andam pra cacete, tem um berro fenomenal, e não preciso dizer que é divertidíssimo!
    Só que procurando a escolinha do Toninho (Interlagos) para botar uma fotos no texto, não encontrei…
    Encontrei um e-mail para a escolinha através do Belmiro (O Dr. Stock!!!)que era um dos professores.
    Vai ver ele comprou a escolinha do Toninho…

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  • 9 de abril de 2009 em 12:05
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    REGI NAT ROCK:

    Vale a pena! É muito bem feitinho, e não economizam tempo na pista. Os carrinhos estão em boa ordem, andam pra cacete, tem um berro fenomenal, e não preciso dizer que é divertidíssimo!
    Só que procurando a escolinha do Toninho (Interlagos) para botar uma fotos no texto, não encontrei…
    Encontrei um e-mail para a escolinha através do Belmiro (O Dr. Stock!!!)que era um dos professores.
    Vai ver ele comprou a escolinha do Toninho…

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  • 9 de abril de 2009 em 18:47
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    HUGO.
    Em 1978 tentei fazer o curso do Expedito Marazzi, mas cadê a verba. Agora com 50 anos lendo o seu relato, pretendo me planejar para ser mais um aluno do Toninho e suas feras.
    Essas experiências ficariam melhor ainda em um livro, conte mais !!!

    Resposta
  • 9 de abril de 2009 em 18:47
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    HUGO.
    Em 1978 tentei fazer o curso do Expedito Marazzi, mas cadê a verba. Agora com 50 anos lendo o seu relato, pretendo me planejar para ser mais um aluno do Toninho e suas feras.
    Essas experiências ficariam melhor ainda em um livro, conte mais !!!

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  • 9 de abril de 2009 em 19:30
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    Hugo, muito legal os seus relatos… Curso de pilotagem é uma coisa que eu ainda quero fazer, pena que Tarumã/Guapore, lugares onde provavelmente tenha escola de pilotagem aqui no RS, fiquem distantes da minha cidade. Estou longe demais das “capitais”…. abraço

    Resposta
  • 9 de abril de 2009 em 19:30
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    Hugo, muito legal os seus relatos… Curso de pilotagem é uma coisa que eu ainda quero fazer, pena que Tarumã/Guapore, lugares onde provavelmente tenha escola de pilotagem aqui no RS, fiquem distantes da minha cidade. Estou longe demais das “capitais”…. abraço

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  • 10 de abril de 2009 em 08:17
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    FANTÁSTICO, HUGO!!!!
    Cheguei a me sentir dentro do Palio vendo você andar. Que dom que você tem pra contar histórias, e a qualidade nas informações e tradução das emoções é algo maravilhoso.
    Só Deus sabe como me arrependo de não ter tomado aquele café da manhã com você lá Ibis. PQP!!!
    Hugo, Saloma e cia.: a “PoeirasTur” (imitação ‘mandrake’ da “ComparsasTur”) fará sua viagem inaugural dia 02 de Maio, para Interlagos.
    Encheremos um ônibus com barriga verde e pulmão marrom rumo ao “Templo”. Vai a nata de SC: pilotos, amantes da velocidade, jornalistas e preparadores.
    Espero que todos vocês estejam lá, vai ser um dia inesquecível para nós.
    Grande abraço

    PS: Hugo, já aguardo ansioso a próxima página do “diário”…

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  • 10 de abril de 2009 em 08:17
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    FANTÁSTICO, HUGO!!!!
    Cheguei a me sentir dentro do Palio vendo você andar. Que dom que você tem pra contar histórias, e a qualidade nas informações e tradução das emoções é algo maravilhoso.
    Só Deus sabe como me arrependo de não ter tomado aquele café da manhã com você lá Ibis. PQP!!!
    Hugo, Saloma e cia.: a “PoeirasTur” (imitação ‘mandrake’ da “ComparsasTur”) fará sua viagem inaugural dia 02 de Maio, para Interlagos.
    Encheremos um ônibus com barriga verde e pulmão marrom rumo ao “Templo”. Vai a nata de SC: pilotos, amantes da velocidade, jornalistas e preparadores.
    Espero que todos vocês estejam lá, vai ser um dia inesquecível para nós.
    Grande abraço

    PS: Hugo, já aguardo ansioso a próxima página do “diário”…

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  • 10 de abril de 2009 em 10:00
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    NICO CONTRERAS:

    Podendo, não deixe de fazer!
    Escolhi a Interlagos por causa dos Pálios, uma vez que estava interessado em carros de turismo. Tenhoa a impressão de que as outras escolinhas se dedicam mais aos fórmulas. Os Renault sedan da escola Manzini não tem muita pinta de carros de corrida, parecem carros de rua, o que já perde muito a graça da coisa toda.
    Os instrutores além de muito competentes, são super pacientes, simpáticos, e dão uma excelente atenção personalizada ao aluno. Os carros são sensacionais!
    Andam pacas, berram que é uma loucura, e os “slicks”, então, são uma delícia! Com a carteira de piloto no bolso, vc. poderá a qq. hora alugar um carro na LF, a nossa equipe, e experimentar umas provas da Superclassic, agora Classic Cup. Vale à pena!
    Grande abraço.

    Resposta
  • 10 de abril de 2009 em 10:00
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    NICO CONTRERAS:

    Podendo, não deixe de fazer!
    Escolhi a Interlagos por causa dos Pálios, uma vez que estava interessado em carros de turismo. Tenhoa a impressão de que as outras escolinhas se dedicam mais aos fórmulas. Os Renault sedan da escola Manzini não tem muita pinta de carros de corrida, parecem carros de rua, o que já perde muito a graça da coisa toda.
    Os instrutores além de muito competentes, são super pacientes, simpáticos, e dão uma excelente atenção personalizada ao aluno. Os carros são sensacionais!
    Andam pacas, berram que é uma loucura, e os “slicks”, então, são uma delícia! Com a carteira de piloto no bolso, vc. poderá a qq. hora alugar um carro na LF, a nossa equipe, e experimentar umas provas da Superclassic, agora Classic Cup. Vale à pena!
    Grande abraço.

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  • 10 de abril de 2009 em 10:07
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    JOÃO CÉSAR:

    Quando fomos correr em Londrina, fiquei super bem impressionado com a escola de pilotagem que existe lá no circuito. Excelente estrutura, professores, e carros. Mais barato que em Sampa tb.!
    Talvez seja uma opção mais próxima para vc…
    Grande abraço.

    Resposta
  • 10 de abril de 2009 em 10:07
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    JOÃO CÉSAR:

    Quando fomos correr em Londrina, fiquei super bem impressionado com a escola de pilotagem que existe lá no circuito. Excelente estrutura, professores, e carros. Mais barato que em Sampa tb.!
    Talvez seja uma opção mais próxima para vc…
    Grande abraço.

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  • 10 de abril de 2009 em 10:20
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    FRANCIS HENRIQUE TRENNEPOHL:

    Oi Francis. Que legal que vc. está curtindo!
    Acho que se escrevo desse jeito, é porque nesses anos todos que fiquei babando à distancia pelas corridas, nunca encontrei um texto explicativo detalhado do que realmente se passa na cabeça do piloto, suas experiencias, ansiedades e sensações. Tô caprichando nisso nos próximos…
    Abração e obrigado mais uma vez.
    PS.: A “PoeirasTur” vai ficar em Sampa para assistir nossa prova do dia 9 de maio? Espero que sim…

    Resposta
  • 10 de abril de 2009 em 10:20
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    FRANCIS HENRIQUE TRENNEPOHL:

    Oi Francis. Que legal que vc. está curtindo!
    Acho que se escrevo desse jeito, é porque nesses anos todos que fiquei babando à distancia pelas corridas, nunca encontrei um texto explicativo detalhado do que realmente se passa na cabeça do piloto, suas experiencias, ansiedades e sensações. Tô caprichando nisso nos próximos…
    Abração e obrigado mais uma vez.
    PS.: A “PoeirasTur” vai ficar em Sampa para assistir nossa prova do dia 9 de maio? Espero que sim…

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  • 10 de abril de 2009 em 11:57
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    Belo relato, Hugo.
    Nada como ter alguem experiente e do ramo ao lado para passar as dicas que levaríamos anos pra descobrir.
    No meu caso, aos 21 anos de idade o “personal” foi apenas Ciro Cayres… Um dos maiores presentes que recebi na vida.
    Ocorre que já bem maduro tinha uma paciencia de Jó, e uma generosidade maior ainda. Antes de sentar no carro, no caso um Opala que tínhamos comprado do Chico Landi e acertado com peças da GM arrumadas por ele, tive uma verdadeira aula Magna de como se comportar, como usar o carro, o que pensar, como se auto-controlar, como ser piloto e não passageiro, como achar a felicidade no meio do barulho, vibração e calor..
    Tudo isso aos poucos e antes de sentar no banco…
    Só essas dicas e lições maravilhosas já valeram por uma vida inteira. Uso seus conceitos e princípios até hoje, e estou cada vez mais convencido que são perfeitos.
    Quando sentamos juntos, ele no volante, a primeira coisa que mostrou foi o lado de fora da pista. Onde podia escapar, onde não podia, onde era acidente na certa, o que fazer com acelerador, freio, volante e principalmente o coração.
    Depois começou a dar voltas a 30%, 40%, 50%… Lembro que qunado chegou a andar (e conversando como se fosse na sala de casa) em 70%, já era muito além do meu limite, o que era “de ladinho” pra ele, pra mim era entregar pro barranco, uma velocidade tremenda e inalcançável…
    Só depois sentei e com o Mestre ao lado, fui apendendo como cuidar do carro, como cambiar, frear, como apontar, como contornar calibrando no acelerador, como se comportar caso escape, controle das batidas do coração, conforto ao pilotar, pressão do pé e não da perna, tudo que ele tinha me passou.
    Em meu caso, Hugo, usei pouco suas aulas. Demoli o carro na curva 4 há 37 anos atrás, e ainda não voltei direito… Apenas em capítulos esporádicos que pretendo mudar em breve…
    Nesse tempo todo, milhares de quilometros solitários no Templo, à noite e na surdina, com todo tipo de carro. Só pra manter o tesão em seu devido lugar. Só pra sonhar em disputar retas e curvas com outros que não eu mesmo.
    E nos ultimos dois anos “desvirginei” vários, em incursões diurnas e noturnas onde repasso o que aprendi… Cezar Quagliato, Euler, Alan “Bandeira Preta” Vanzella, Rick Lucas, Aluísio, Lucca Furquim, Regi Nat Rock e Caio de Santos (esses só um pouquinho), 3 modelos da Cavalera num dia de evento em 2006, Dinécio dos Santos, e mais um monte que nem me lembro…
    Assim como voce, Hugo, só encontro a felicidade se partilhar as experiencias. Senão, qual é a graça? Partilhando a gente sempre multiplica.
    vamos ver se ainda nessa encarnação a gente se encontra pelas pistas. Vai ser uma honra e grande felicidade sentir o vento na cara em sua companhia, correndo por aquele asfalto sagrado.

    Resposta
  • 10 de abril de 2009 em 11:57
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    Belo relato, Hugo.
    Nada como ter alguem experiente e do ramo ao lado para passar as dicas que levaríamos anos pra descobrir.
    No meu caso, aos 21 anos de idade o “personal” foi apenas Ciro Cayres… Um dos maiores presentes que recebi na vida.
    Ocorre que já bem maduro tinha uma paciencia de Jó, e uma generosidade maior ainda. Antes de sentar no carro, no caso um Opala que tínhamos comprado do Chico Landi e acertado com peças da GM arrumadas por ele, tive uma verdadeira aula Magna de como se comportar, como usar o carro, o que pensar, como se auto-controlar, como ser piloto e não passageiro, como achar a felicidade no meio do barulho, vibração e calor..
    Tudo isso aos poucos e antes de sentar no banco…
    Só essas dicas e lições maravilhosas já valeram por uma vida inteira. Uso seus conceitos e princípios até hoje, e estou cada vez mais convencido que são perfeitos.
    Quando sentamos juntos, ele no volante, a primeira coisa que mostrou foi o lado de fora da pista. Onde podia escapar, onde não podia, onde era acidente na certa, o que fazer com acelerador, freio, volante e principalmente o coração.
    Depois começou a dar voltas a 30%, 40%, 50%… Lembro que qunado chegou a andar (e conversando como se fosse na sala de casa) em 70%, já era muito além do meu limite, o que era “de ladinho” pra ele, pra mim era entregar pro barranco, uma velocidade tremenda e inalcançável…
    Só depois sentei e com o Mestre ao lado, fui apendendo como cuidar do carro, como cambiar, frear, como apontar, como contornar calibrando no acelerador, como se comportar caso escape, controle das batidas do coração, conforto ao pilotar, pressão do pé e não da perna, tudo que ele tinha me passou.
    Em meu caso, Hugo, usei pouco suas aulas. Demoli o carro na curva 4 há 37 anos atrás, e ainda não voltei direito… Apenas em capítulos esporádicos que pretendo mudar em breve…
    Nesse tempo todo, milhares de quilometros solitários no Templo, à noite e na surdina, com todo tipo de carro. Só pra manter o tesão em seu devido lugar. Só pra sonhar em disputar retas e curvas com outros que não eu mesmo.
    E nos ultimos dois anos “desvirginei” vários, em incursões diurnas e noturnas onde repasso o que aprendi… Cezar Quagliato, Euler, Alan “Bandeira Preta” Vanzella, Rick Lucas, Aluísio, Lucca Furquim, Regi Nat Rock e Caio de Santos (esses só um pouquinho), 3 modelos da Cavalera num dia de evento em 2006, Dinécio dos Santos, e mais um monte que nem me lembro…
    Assim como voce, Hugo, só encontro a felicidade se partilhar as experiencias. Senão, qual é a graça? Partilhando a gente sempre multiplica.
    vamos ver se ainda nessa encarnação a gente se encontra pelas pistas. Vai ser uma honra e grande felicidade sentir o vento na cara em sua companhia, correndo por aquele asfalto sagrado.

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  • 10 de abril de 2009 em 14:17
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    CLAUDIO CEREGATTI:

    Que beleza de texto…
    Realmente pouquíssimas pessoas podem partilhar seu privilégio de ter tido um “personal” como o Ciro Cayres. Como gostava de ve-lo tocando aqueles Simca…
    Uma das coisas importantes que vc. menciona, é como domar o coração e as emoções. Muitos podem ensinar a parte técnica, porem poucos, os sentimentos. E acho que aí é que está a diferença entre sermos mais ou menos bem sucedidos na pista (e tb. fora dela).
    Tenho um grande e velho amigo o Adival de Guenin Rabello que tb. aprendeu muito com o Cyro. Foi na época dos Simca. Acho que eram aparentados por parte de mãe. Vc. conheceu?
    Estou certo de que, qq. hora dessas, vou ter o prazer de dividir aquele asfalto, que conheces tão bem, com vc. Agora, anda logo com isso!
    Conta mais um pouquinho aquela parte das 3 modelos da Cavalera… Rs.
    Abração compadre.

    Resposta
  • 10 de abril de 2009 em 14:17
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    CLAUDIO CEREGATTI:

    Que beleza de texto…
    Realmente pouquíssimas pessoas podem partilhar seu privilégio de ter tido um “personal” como o Ciro Cayres. Como gostava de ve-lo tocando aqueles Simca…
    Uma das coisas importantes que vc. menciona, é como domar o coração e as emoções. Muitos podem ensinar a parte técnica, porem poucos, os sentimentos. E acho que aí é que está a diferença entre sermos mais ou menos bem sucedidos na pista (e tb. fora dela).
    Tenho um grande e velho amigo o Adival de Guenin Rabello que tb. aprendeu muito com o Cyro. Foi na época dos Simca. Acho que eram aparentados por parte de mãe. Vc. conheceu?
    Estou certo de que, qq. hora dessas, vou ter o prazer de dividir aquele asfalto, que conheces tão bem, com vc. Agora, anda logo com isso!
    Conta mais um pouquinho aquela parte das 3 modelos da Cavalera… Rs.
    Abração compadre.

    Resposta
  • 11 de abril de 2009 em 17:34
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    Hugo:
    Da família do Ciro conheci apenas sua esposa. Ninguem mais.
    Quanto aos 3 modelos da Cavalera…
    Acontece que por um período, na administração anterior ao Roberto Seixas, ia ao autódromo várias vezes por semana. Por um curto perído, me arrumaram até uma mesa lá… Isso foi no início do segundo semestre de 2006.
    Chegava de madrugadinha, antes das 6 da manhã para vistoriar o asfalto e ver se o sol nascia no mesmo lugar, sabe como é… Deixava no posto 5 o laptop, os tapetes, o celular e ia queimar um pneuzinho básico.
    Então, num meio de semana, a confecção Cavalera locou o autódro e o Pacaembu (acho) para um desfile totalmente diferente.
    Lembro que em Interlagos foi uma superprodução, e desfilou até o Bruno Senna, pelo meio da reta de chegada. Muito legal.
    Nesse dia cheguei cedíssimo, e como sempre comecei a rodar. Logo na segunda ou terceira volta tinha um bando de garotos no muro dos boxes, acenando e gesticulando. Entrei depois de umas voltas para os boxes e encontrei algumas dezenas de modelos, se arrumando nos boxes adaptados e muito interessados em “quem era aquele cara”, no caso, eu.
    Quando tirei o capacete, estranharam muito os cabelos brancos, claro…
    Me enturmei logo e um deles perguntou se tinha jeito de ir junto… Mais dois se ofereceram. Pedi para a coordenadora (uma gracinha de metro e meio de altura) e ela permitiu, então…
    Foram só umas duas voltas, pois a molecada era grandona e ocupava com seus pernões todo o Celta, mas quando apontei no mergulho de pé cravado com o pneu dobrando… Uma gritaria só, quase panico. Não sei se alguem molhou as calças, mas naquele dia, com o carro pesado mandei o pé para zoar os caras mesmo, fui na zebra de propósito, esses efeitos especiais só pra impressionar os incautos mesmo.
    É que um deles, o mais engraçadinho e metido a besta, antes de sentar no carro fez uma brincadeirinha infeliz com minha idade e barriga sarada… Pois garanto que essas voltas a figura jamais esqueceu, pois esse veio do meu lado, e chegou a fechar os olhos de medo…
    Os pneus foram-se, e os freios então…
    Devolvi os tres são e salvos, mas meio tontos e descompensados. Depois fui pra minha sala no Templo esperar o sol da tardinha…
    Nada como um palhacinho pro circo pegar fogo de verdade…
    Abraços, camarada.

    Resposta
  • 11 de abril de 2009 em 17:34
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    Hugo:
    Da família do Ciro conheci apenas sua esposa. Ninguem mais.
    Quanto aos 3 modelos da Cavalera…
    Acontece que por um período, na administração anterior ao Roberto Seixas, ia ao autódromo várias vezes por semana. Por um curto perído, me arrumaram até uma mesa lá… Isso foi no início do segundo semestre de 2006.
    Chegava de madrugadinha, antes das 6 da manhã para vistoriar o asfalto e ver se o sol nascia no mesmo lugar, sabe como é… Deixava no posto 5 o laptop, os tapetes, o celular e ia queimar um pneuzinho básico.
    Então, num meio de semana, a confecção Cavalera locou o autódro e o Pacaembu (acho) para um desfile totalmente diferente.
    Lembro que em Interlagos foi uma superprodução, e desfilou até o Bruno Senna, pelo meio da reta de chegada. Muito legal.
    Nesse dia cheguei cedíssimo, e como sempre comecei a rodar. Logo na segunda ou terceira volta tinha um bando de garotos no muro dos boxes, acenando e gesticulando. Entrei depois de umas voltas para os boxes e encontrei algumas dezenas de modelos, se arrumando nos boxes adaptados e muito interessados em “quem era aquele cara”, no caso, eu.
    Quando tirei o capacete, estranharam muito os cabelos brancos, claro…
    Me enturmei logo e um deles perguntou se tinha jeito de ir junto… Mais dois se ofereceram. Pedi para a coordenadora (uma gracinha de metro e meio de altura) e ela permitiu, então…
    Foram só umas duas voltas, pois a molecada era grandona e ocupava com seus pernões todo o Celta, mas quando apontei no mergulho de pé cravado com o pneu dobrando… Uma gritaria só, quase panico. Não sei se alguem molhou as calças, mas naquele dia, com o carro pesado mandei o pé para zoar os caras mesmo, fui na zebra de propósito, esses efeitos especiais só pra impressionar os incautos mesmo.
    É que um deles, o mais engraçadinho e metido a besta, antes de sentar no carro fez uma brincadeirinha infeliz com minha idade e barriga sarada… Pois garanto que essas voltas a figura jamais esqueceu, pois esse veio do meu lado, e chegou a fechar os olhos de medo…
    Os pneus foram-se, e os freios então…
    Devolvi os tres são e salvos, mas meio tontos e descompensados. Depois fui pra minha sala no Templo esperar o sol da tardinha…
    Nada como um palhacinho pro circo pegar fogo de verdade…
    Abraços, camarada.

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