PAPOS COM SEABRA (ELE VOLTOU…)

Guiando Ferraris e Lambos em Maranello…

Na minha ultima viagem a Italia, em abril/maio de 2011, reservei 2 dias para ficar em Maranello, mas acabei aumentando a estadia para 4 dias, nessa cidadezinha mitológica para os amantes do automobilismo, cujo ar fica permanentemente infestado pelo “canto” sedutor de motores V8 e V12. Abaixo a 430 Scuderia, Branca, que eu testei…

Antes de sair do Brasil eu tinha agendado quatro Test Drives de 20 minutos, com 3 modelos de Ferrari e 1 modelo de Lamborghini, além de visitas a Galleria Ferrari, Museu da Lamborghini e a coleção privada conhecida como Coleção Panini, cujo foco são as Masseratis dos anos 50-70. Planejei ficar no hotel Maranello Palace, que se mostrou surpreendentemente confortável e aconchegante, e onde recebi uma atenção quase familiar, com preços baixos, na faixa de 100-110 euros por dia. O hotel fica em frente a galeria de vento da Ferrari, localizada nos fundos da fabrica, e o tempo de trajeto do hotel até o portão principal da Ferrari ou até a Av. Dino Ferrari, são menos de 3 minutos, de carro. È neste hotel que se hospedam Massa e Alonso, quando estão na fabrica, e onde no passado se hospedavam Barrichello e Schumacher.

As minhas reservas para test drive foram rapidamente aumentadas, e acabei guiando 6 Ferraris (F355 GTS, 430 Berlinetta, 430 Scuderia, 430 Spyder, F458 Italia e Califórnia) e 2 Lambos (Gallardo e Murcielago), alguns deles mais de uma vez !!!. Ao todo, foram 12 saidas. Além disso, tive a oportunidade de guiar, por uma enorme gentileza do proprietário, uma 575 Maranello F1, ano 2004, preta, e fui passageiro numa Testarossa 1991, vermelha, imaculada, em um passeio curtinho.

Esses Test Drives podem ser contratados em 3 lojas que existem na cidade, mas nenhuma delas tem disponibilidade de TODOS os modelos. Assim, eu preferi escolher a “I Love Maranello”, que subcontratou das outras lojas os modelos que eu quis guiar e que eles não tinham.

Dependendo do tempo de teste e do modelo de carro escolhido, os preços variam de 100 Euros (20 minutos com uma F430) a 500 Euros (1 hora com uma F458). Em todos esses trajetos você é acompanhado por um “instrutor”, que te diz aonde ir e te dá dicas de como guiar o carro, além de controlar a tua “ânsia” de acelerar ! E possível, ainda, contratar a preços menores, passeios como passageiro, com um dos “instrutores” guiando, ideal para mulheres e menores de idade…

Escolher bem esses instrutores é muito importante, e eu aprendi isso da pior maneira: saindo aleatoriamente com os melhores e com os piores ! Se você pega um instrutor babaca, ele te patrulha o tempo todo, ordenando “piano, piano” (devagar), e te “joga” nos locais onde o trafego está mais intenso, limitando as tuas possibilidades de acelerar a “macchina”.

Todos os testes são feitos com o “manettino” na posição de chuva (veja na foto abaixo, com a California), ou seja, com o máximo de controle de tração aplicado. Eventualmente, se eles notam que você é experiente, centrado e sabe o que está fazendo, te permitem mudar para a posição Sport, que é o “set-up” normal para uso diário. Mas não se iluda, isso é raro. As saídas são feitas em estradas vicinais próximas a cidade, em pista única e mão dupla, com transito normal do dia a dia da cidade.

Logo, a escolha de um dia e um horário de menos trafego é fundamental para um bom aproveitamento do “brinquedinho”. Os momentos em que você pode dar uma “aceleradinha” são nas saídas das rotatórias, quando não há ninguém na tua frente, ou nas ultrapassagens sobre uma fila de carros mais lentos. Nessas ocasiões é fácil ir de 40 a 150 km/h, esticando 2°, 3° e jogando a 4 marcha. Isso já é suficiente pra você perceber o calibre da “arma” que você está “disparando”. Se você tem sorte com o trafego e passa confiança ao instrutor, consegue dar umas esticadas mais fortes, até por volta de uns 190-210 km/h, nos (raros) momentos em que encontra pista livre.

Dois brasileiros que estavam por lá e testaram no mesmo dia, comentaram que esticaram até quase 300 km/h !!! Eu fiquei espantado e fui perguntar se era verdade, ao instrutor que tinha saído com eles e que já tinha ficado meu camarada,. A resposta do instrutor foi: “Claro que não! Dever ter ficado loucos, andaram no máximo a 140 !!! Talvez nem isso”

Como eu contratei os serviços da I Love Maranello, cujo dono é o Gigi, um cara muito bacana, eles me ajudaram muito a não fazer besteiras na escolha dos carros a serem guiados. Assim, guiei primeiro os mais mansos e depois os mais bravos, deixando os trajetos de maior duração para os carros mais fortes e modernos. A minha primeira saída foi com uma F355 amarela, com cambio manual, e a segunda foi com uma F430 normal, vermelha, com cambio F1, acompanhado do Ugo, um dos melhores instrutores com quem andei lá. O Ugo é muito calmo, fala um italiano claro e pausado, fácil de entender, e te deixa muito a vontade pra guiar. E se ele percebe que você sabe guiar, ele relaxa e te libera pra andar mais rápido.

Na foto abaixo o Paulo é o que está de colete, o Maurizio (baixinho) está ao lado dele, de jaqueta vermelho Ferrari e o Gigi é o que está de blusa branca. Eu estou estacionando a 430, com o Ugo ao meu lado. A lanterna vermelha no canto direito é da Califórnia, que o Maurizio tinha trazido para eu fazer o test-drive.

A F430 normal é um carro maravilhoso, de direção muito precisa e macia, e acaba sendo fácil de guiar, com o cambio F1. Já a 430 Scuderia é mais nervosa, a suspensão é mais rígida e o cambio mais rápido. Ela dá um pouco mais “tranco” nas trocas de marchas no limite de giros, especialmente se você está na posição Sport. Mas quando você experimenta a F458, é que você descobre o que é um verdadeiro carro dos sonhos: alia a docilidade e a maciez da F430 normal a velocidade de troca de marchas e a precisão da suspensão da Scuderia, com muito mais “cavalaria” do que as duas anteriores. São 570 HP urrando nas tuas costas e te empurrando pra frente com uma aceleração estonteante. Além de linda, a 458 é uma maravilha da engenharia, que, andando com o cambio na posição automático e acelerando de leve, te coloca já em sétima marcha a partir dos 60 km/h, sem trancos e sem “protestos”.

As Lambo são, digamos, mais rústicas no desempenho, embora o conforto e o acabamento do habitáculo passem a impressão de melhor qualidade e acabamento. A Murciélago é mais brutal, chega a dar a sensação de que você está montado num touro brabo, na hora em que a pressão do teu pé libera todos os seus 640 HP. A Gallardo é sensivelmente mas dócil, e também é muito rápida, com seus 560 HP. Por serem ambas modelos com tração nas 4 rodas, a direção é um pouco mais pesada, e parece menos precisa quando comparadas as Ferraris. Mas, do mesmo modo que as “Rossas”, são carros impressionantes e maravilhosos.

A Ferrari Califórnia é um verdadeiro Gran Turismo, que pode ser usada como carro do dia a dia, mas que, quando “solicitada” a mostrar ao que veio, grita alto e desempenha como uma verdadeira Ferrari de boa estirpe.

No ultimo dos test drives que fiz, escolhi andar com a F430 da I Love Maranello, com o Ugo como instrutor, num passeio de 1 hora de duração, atravessando as colinas de Serramazoni, local onde os “collaudatori” da Ferrari experimentam os modelos em desenvolvimento na Fabrica. São 50 km de trajeto, iniciado em estradas planas e mais retas, onde, tendo sorte com o trafego, você consegue andar trechos longos acima dos 200 km/h, ora acelerando nas trocas ascendentes feitas aos 8.500 giros, ora reduzindo as marchas para fazer algumas curvas de media-alta. Apesar de ter ficado longe do limite, é um prazer indescritível contornar velozmente as curvas dessa estrada, com o V8 berrando alto e com a “macchina” colada no chão, te convidando a encher o pé no acelerador. Os giros vão crescendo rápido nas saídas de curva, e você segue comandando as borboletas, com a velocidade crescendo vertiginosamente. Que sensação maravilhosa e alucinante!!! Tudo o que você consegue pensar é: “Ah ! se esse carro fosse meu… !!!!” Quando você chega a Serramazoni, inicia-se a subida por estradinhas sinuosas e estreitas, cruzando vilarejos simples, típicos do interior da Italia. É ali, rodando entre 50 e 120 km/h, que dá pra perceber o que é fazer curvas de baixa com uma “Rossa”: uma delicia ! Lógico que o máximo que você consegue é liberação do instrutor para “tocar” a cerca de 70% por cento do que seria o “teu” limite pessoal com o carro, naquele local. Mas já é o suficiente pra, no final, te fazer descer do carro em estado de semi-catatonia !!!! Este passeio com a F430 custa cerca de 350 euros (500 com a F458), mas vale cada centavo investido nele.

Ao final dessa experiência quase indescritível, dá pra fazer algumas sugestões pra quem ficar com vontade de ir lá se divertir:

1 – Alugue preferencialmente com o Gigi, na I Love Maranello, mesmo que os carros venham da Pit Lane ou da Warm Up. Visite o site: www.ilovemaranello.com e veja o que eles oferecem. Eu recomendo a visita a fabrica da Lamborghini, a visita a Galeria Ferrari, e, pra quem gosta de moto, uma visita a fábrica da Ducatti.
2 – Comece com um passeio local de 20 minutos na F430 vermelha do Gigi, levando o Ugo como instrutor. È a melhor forma de tomar contato com o local e com os carros.
3 – Se você for guiar a F458, a Califórnia ou a Lambo Gallardo, peça os carros da Warm Up, e exija o Maurizio (o mais alto) como instrutor. Na falta dele, peça o Pepe.
4 – Se você for bom de braço e souber passar confiança ao instrutor, peça a F458 da Pit Lane, com o instrutor Maurizio (o mais baixinho), um ex-piloto de moto. Converse com ele antes do teste. Ele, no inicio, pode ser extremamente “cri-cri”, mas se você mostrar que tem responsabilidade, que sabe guiar e ganhar a confiança dele, ele te leva onde tem menos trafego, te incentiva a acelerar e até vibra junto com você, quando percebe que você está “babando” no carro. Ele é apaixonado pela 458. Comigo, ele foi extremamente legal….mas foi só depois do 3° test-drive que eu fazia com ele como instrutor. Infelizmente, não posso contar aqui o “milagre”…para não prejudicar o cara. Mais adiante eu dou uma dica, rs,rs,rs. Eu só lamento, muitíssimo, não ter pedido o vídeo dessa saída !
5 – Em todos os carros você pode pedir uma copia do vídeo do teu test-drive, a um custo adicional de cerca de 20 Euros. Prefira fazer os vídeos com os carros da Warm Up, pois a “camara-car” deles é HD, e o vídeo fica um espetáculo. O segundo melhor vídeo, em qualidade, é feito com a F430 do Gigi.
6 – A “I Love Maranello” oferece também uma espécie de “curso de pilotagem” em autódromo (Misano, Vallelunga, Monza), em datas pre-determinadas, guiando F430 de pista, e usando pilotos de competição como instrutores (p. ex o Mimo Schiatarella). Veja no site deles.

Comentários gerais:

A – A comida em Modena/Maranello é muito boa, e os restaurantes não são caros. Experimente jantar no Drake, no centro de Maranello, e almoçar no Il Cavallino, o “Ristorante” preferido do “Comendattore”, em frente ao portão da fábrica. Reserve com o Gigi, que ele consegue descontos importantes. Se for ficar mais de um dia, peça pra te levarem pra almoçar no Zanichelli, o restaurante da mãe do Gigi, cuja comida caseira italiana é da melhor qualidade.

B – Repare como o Gilles Villeneuve é idolatrado em Maranello! Há fotos, pôsteres, busto, capacete, e fotos autografadas dele em todos os locais “Ferrarianos”.

C – Não se anime a guiar a Spyder, nem a California, com o teto aberto: acima dos 150 km/h o vento lá dentro incomoda pacas. Na Califórnia, que é 2+2, dá pra levar a esposa ou a namorada, toda encolhida e apertada, no banco de trás. O custo adicional é de 20 euros por passageiro. Ai sim, se abrir o teto, fica um pouco menos desconfortável….

D – Compre os souvenirs na Hors Ligne, com o Paulo. Ele é irmão do Gigi, e fala um pouco de português, pois foi casado por muito tempo com uma brasileira. Se você disser que é brasileiro, o valor dos descontos aumenta!

E – Se você estiver com uma acompanhante que goste de carros, faça ela dirigir a Califórnia, por 10 minutinhos (cera de 80 Euros, bem negociados…), com o teto aberto. E vá junto, no banco de trás. Certamente você receberá uma recompensa…

F – Guiar uma Ferrari 458 Italia, com o “manettino” na posição RACE, esticando as marchas até os 9.000 RPM, acelerando forte nas saídas de curvas de baixa e levando a “bichinha” acima dos 200km/h, é uma experiência inesquecível….tem mais um detalhe: quando o “manettino” está em RACE, o som da descarga muda, ficando mais alto e mais grave !!!! É empolgação TOTAL, adrenalina PURA, na veia !!!!! Esse é “o” carro.

Finalmente, se você não pode ter uma Ferrari ou uma Lambo, faça como eu: reserve uma grana, vá para Maranello, e programe todos os testes e visitas a fabricas com o Gigi, ou com o Fabio, sócio dele, ou com a Barbara, sua esposa. Todos trabalham na agencia de viagens da família, a MaranellViaggi. A Barbara é a única que fala inglês, mas todos falam um italiano claro e perfeitamente compreensível pra nós brasileiros.

Daí pra frente, abra a carteira e gaste sem dó, porque vale cada centavo investido no prazer de guiar esses carros. E daí, “relaxe e goze”, que os orgasmos serão intensos.

E faça bom proveito !
Antonio Seabra

PS – não posso deixar de registrar que o Gigi, o Ugo, o Fabio e o Paulo foram de uma gentileza impar comigo. Espero que eles venham ao Brasil algum dia, para que eu possa retribuir.
(reprodução/arq. pessoal)

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

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