"UMAS & OUTRAS" #26…

A Saga da Lola T-70 (Final)
Joaquim Lopes Filho

A temporada de 1968 do Mundial de Construtores se anuncia desastrosa para a Lola Cars. Com a nova regulamentação da FIA limitando os protótipos a 3 litros e os carros do Grupo 4 (Sport Cars) a cinco litros, o desastre esportivo e econômico parecia iminente.
Mas com muita boa vontade e benevolência da FIA – que com o afastamento da Ford revê suas exigências, baixando o número mínimo para 25 exemplares para carros do Grupo 4- beneficiando a Lola que constrói somente 11 unidades do modelo MK3 GT.
O desafio agora era como enfrentar os Ford GT-40 e as Ferrari 330P4 e 250 LM que se prenunciavam como os principais contendores dentro da categoria.
Mal sabia Eric Broadley que o perigo era realmente alemão, com a Porsche dominando a categoria protótipos 3 litros com seus modelos 907 LH e 908/1, e se transformando no principal desafiante dos GT-40. A Ferrari, indignada com a decisão da FIA, resolve não competir oficialmente, deixando a marca ser defendida por equipes particulares usando as já ultrapassadas 330P4 e as novas 250 LM.

Prévia da temporada

Com a desistência oficial da Ford de participar do Mundial de Construtores, seus interesses passaram a ser semi-oficialmente defendidos pela John Wyer Automotive e seus renovados Ford GT-40 de 4.9 litros (grupo 4) e a incógnita do Ford P-68 de 3 litros (ex-projeto Holman & Moody Honker II), opção da Alan Mann Racing.
Aqui havia alguma esperança de vitórias majoritárias, pois tecnicamente a Lola T-70 era bem superior ao já ultrapassado Ford GT-40, mas contava a favor da marca americana a bem estruturada equipe de John Wyer, enquanto contra a Lola pesava a falta de um programa específico para os sport-protótipos, uma vez que a política da fábrica era nunca alinhar uma equipe oficial e sim apoiar alguns times extra oficialmente.

Ford GT-40, absolutos em 1968

Uma perspectiva do ano anterior, 1967, demonstra que em corridas curtas de clube ou de três horas de duração, a Lola T-70 até que não havia ido tão mal, alinhavando 9 vitórias com Frank Gardner (2), Sid Taylor (2), Dennis Hulme(2) e Paul Hawkins (3), a despeito de suas reconhecidas falta de confiabilidade em provas de longa distância que compunham a tabela do Mundial de Construtores.

E começa a batalha…

A temporada de 68 se inicia com as vitórias da Porsche em Daytona e Sebring com seus modelos 907 LH, mas a verdade se estabelece com o domínio dos GT-40 da JWA que vencem em Brands Hatch, Monza, Spa-Francorchamps, Watkins Glen e Le Mans com a dupla Pedro Rodriguez/Lucien Bianchi. A Porsche vence na Targa Florio, Nurburgring e Zeltweg, com o título indo para a equipe inglesa.
As Lola T-70, para não fugir à regra, quebram insistentemente, sendo seus melhores resultados um 6º. lugar de Jo Bonnier/Sten Axelsson na BOAC 500 de Brands Hatch e um décimo lugar nos Mil Km de Spa-Francorchamps com Jack Epstein/Eric Liddell.

A T-70 de Jo Bonnier, um dos melhores defensores da marca

Por outro lado, as Lola T-70 revelam-se como vencedoras contumazes em provas de curta duração do campeonato britânico ou europeu de sportcars, assinalando 20 vitórias neste ano com Paul Hawkins, Brian Redman, Jo Bonnier, Sid Taylor, Ulf Norinder, Frank Gardner, Mike de Udy, Jean Michel Giorgi, Jack Epstein e Chris Craft, além de algumas provas na África do Sul, Angola, Austrália e Nova Zelândia.
A Lola T-70 MK3 GT caracteriza-se cada vez mais como um verdadeiro sport car inglês, pilotado por gentlemen drivers em provas alternativas do Campeonato Mundial, onde não há a concorrência feroz das equipes oficiais Ferrari, Porsche ou Ford.

A nova Lola MK3 B

Em 1969, são novas as peças no tabuleiro e o jogo vira mais uma vez.
A Ferrari retorna á cena com sua 312P, John Wyer continua apostando nos GT-40 após o fracasso do Ford P-68 de Alan Mann, a Porsche surge ameaçadoramente com seu projeto 917 e a Alfa Romeo P33/2 Daytona começa a se tornar realidade, além da Matra-Simca que só cobiça Le Mans
Fiel à sua política comercial a Lola oferece aos seus clientes uma versão com carroceria melhorada da T-70 para 1969 e motorização standard Chevy V-8 Traco de 5 litros (304 polegadas), carburadores Weber em lugar da injeção direta e caixa de marchas Hewland de cinco velocidades.
Os novos motores, obedecendo a uma receita da Can Am, apresentam uma taxa de compressão de 12,5:1, necessitando de gasolina de pelo menos 116 octanas, indisponível na Europa naquele tempo. O que se prenunciava como a grande virtude do carro logo demonstraria ser o seu calcanhar de Aquiles.
Uma grande esperança é a confiança depositada por Roger Penske no seu novo modelo, a renovada Lola T-70 MK3B Sunoco, com a firme disposição de disputar todas as etapas do Mundial. Pela primeira vez, a Lola teria um programa específico voltado para o Mundial, com a assistência de uma equipe altamente profissional e dotada de imensos recursos financeiros.

Lolas T-70 vencem Porsches em Daytona, 1969

Era também a primeira chance da T-70 demonstrar suas reais qualidades ao enfrentar de igual para igual os carros de fábrica.
E as novas T-70 não decepcionam ao vencer surpreendentemente já na abertura da temporada as 24 Horas de Daytona, com a Lola-Sunoco da dupla Mark Donahue/Chuck Parsons, após abandono dos favoritíssimos Porsches 908 e os GT-40.
Outra Lola T-70, a da dupla americana Ed Leslie/Lothar Motschenbacher,pertencente à equipe do ator hollywoodiano James Garner chega em segundo, cravando um inacreditável 1-2 logo na primeira etapa, com final cinematográfico.

O ator James Garner observa sua Lola T-70 em Daytona, 1969

O drama americano

As coisas pareciam finalmente se encaminhar bem para a Lola também na prova seguinte, as 12 Horas de Sebring, quando a muito modificada T-70 Sunoco vira o segundo tempo mas, vítima da velha escrita, não termina a prova. O melhor resultado é o sexto lugar da dupla Motschenbacher/Leslie.

Aqui começava ao drama americano. No caminho de volta para sua sede na Pennsylvania, a carreta que transportava o carro é roubada num posto de gasolina á beira da estrada. Várias semanas depois, após uma intensa procura e a oferta de uma generosa recompensa, o carro é reencontrado em péssimo estado, faltando várias peças. Roger Penske conclui que não vale a pena a reconstrução, desistindo do projeto de vencer no Mundial de Construtores.
Foi o fim do breve sonho da Lola T-70 em busca de uma grande vitória.
O campeonato prossegue entre Porsche 908, Ford Gt-40 e Ferari 312P, com a Lola T-70 conseguindo somente resultados intermediários como o quinto lugar de Frank Gardner/Andréa de Adamich nos 1000 Km de Monza, e a mesma colocação nos 1000 Km de Spa-Francorchamps com a dupla Jo Bonnier/Herbert Muller, culminando com o segundo lugar desta última nos 1000 Km de Zeltweg.
Um fato lamentável foi a perda da vida de um de seus mais promissores pilotos, o australiano Paul Hawkins ao volante de uma Lola T-70 na Boac 500 em Brands Hatch. A T-70 fazia também sua primeira vítima.

O australiano Paul Hawkins, #1, primeira vítima da Lola T-70, 1969

O cartel da Lola T-70 em 1969 demonstra sua vocação para provas sprint ou de curta duração, com a marca de 15 vitórias no ano, assim distribuídas: uma vitória nas 24 Horas de Daytona, quatro vitórias em provas de três horas (duas com John Love e duas com a dupla Frank Gardner/Mike de Udy); quatro corridas curtas do RAC Sports Car Championship (Brian Redman, Dennis Hulme, Sid Taylor e Paul Hawkins), as 200 Milhas de Nuremberg com Brian Redman e seis corridas menores em Karlskoga (Redman novamente), Preis Von Tyrol (Frank Gardner), Montlhéry (Jo Bonnier/David Piper), Magny Cours (Ronnie Peterson) e Oulton Park, com Frank Gardner.

Jô Bonnier e Brian Redman em luta no Embassy Truxton Trophy, 1969

Em 1970, a cena do Mundial de Construtores é dominada pela batalha campal entre Porsches 917 e Ferrari 512S. Não há mais espaço para as Lola T-70 que abiscoitam somente colocações secundárias em corridas de pouca relevância com seu melhor resultado um quarto lugar nos Mil Km de Buenos Aires, com Teddy Pilette e o argentino Nestor Garcia-Veiga, prova não-válida pelo Mundial.
Outra baixa considerável é a mudança do campeonato inglês e europeu de sports car para protótipos de 2 litros, privando assim a T-70 de seu maior campo de vitórias.
Mesmo assim, a Lola T-70 assinala 7 vitórias no ano, em provas de pouca expressão como os 500 Km e o GP de de Vila Real (Teddy Pilette-Guy Gosselin), Monthléry (Richard Attwood/Teddy Pilette), Dijon (Attwood), Yllandsringen (Jo Bonnier) e Magny-Cours com Jean-Pierre Beltoise.
Na temporada de 1971, somente uma vitória é assinalada pela Lola T-70, na Copa Brasil, pilotada por Wilsinho Fittipaldi.
A carreira internacional da bela Lola T-70 MK3B chegava ao final, com um currículo de 52 vitórias em apenas cinco anos (1967/1971).
O carro ainda seria utilizado em provas locais na África do Sul, Portugal, Angola, Austrália e Japão, mas muito longe de seus dias de quase glória.

Corridas africanas, mercado certo para as Lolas T-70

Duas Lolas T-70 correram no Brasil.

A primeira, modelo MK3 GT, foi trazida em 1969 pelos pilotos cariocas Márcio e Marcelo de Paoli e disputou somente provas regionais no Rio de janeiro e uma prova no Ceará. Posteriormente passou às mãos de Norman Casari e acabou-se num incêndio nos treinos para os 500 km de Interlagos de 1971.

A segunda, modelo MK3B, foi trazida em 1970 para a disputa da Copa Brasil, aqui ficando na temporada seguinte, quando correu o campeonato brasileiro com Antonio Carlos Avallone. No ano seguinte, vendida para o piloto paulista Marinho Antunes, acabou-se também num incêndio quando treinava para os 500 Km de Interlagos.
No Brasil, a Lola T-70 repetiu seu papel de vitoriosa em corridas secundárias, alinhavando duas vitórias no campeonato carioca de 1969 e a já citada prova da Copa Brasil.
Mesmo assim não há dúvida de que a Lola T-70 foi um dos maiores ícones dos sport-protótipos que já andaram nas pistas mundiais, sendo até hoje um dos carros mais copiados daqueles mágicos carros dos anos 60.

Joaquim, Joca, ou “Anexo J” do Boteco do SalomaEx-comissário desportivo da FIA, foi fundador, presidente e diretor técnico de kart clube, rali, arrancada e dirigente de federação de automobilismo.
Titular da coluna “Umas&Outras”, escreve regularmente neste espaço às segundas feiras.
(reprodução)

Nota do Blog:
Comparsas é o seguinte. Seria tão bom se pudéssemos montar nosso
dia-a-adia como gostaríamos, mas a coisa não é bem assim. Saloma e
Joca estão tarefadíssimos, cada qual com os imbróglios que merecem, e
para tal, a solução terá que vir. Por isso, o boteco vai passar por
algumas alterações de programações e postagens. A mais sentida será as colunas, que já vinham capengando, com os outros colunistas sem “time” para oferecer a galera coisas bacanas e estudadas. “Papo de Clássicos”, do Romeu Nardini e as colunas técnicas do Vicente Miranda, estão nos boxes, por tempo indeterminado e Joca vinha segurando uma responsa junto com Saloma toda segunda-feira, sem faltar. Mas daí vai alterar a bagaça…“Umas & Outras” voltará a ser de quinze em quinze dias. Vamos colocar a Cx. P. em ordem e o boteco seguirá seu rumo mantendo sua qualidade e respeito e o mais importante COMPROMISSO com a galera que são o combustível desse humilde espaço pretensioso e democrático..
.
É isso…
LS (assino pelos comparsas também)

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

16 comentários em “"UMAS & OUTRAS" #26…

  • 18 de agosto de 2008 em 12:51
    Permalink

    No problems…
    A gente espera, porra.

    Resposta
  • 18 de agosto de 2008 em 12:51
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    No problems…
    A gente espera, porra.

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  • 18 de agosto de 2008 em 18:36
    Permalink

    Fazer o quê. Estamos todos ficando especialistas em espera. Espera da tosse, do médico, do fim de semana, do mini farnel, da F1, esperemos pois, as colunas de 15 em 15 dias. sem problemas….

    Resposta
  • 18 de agosto de 2008 em 18:36
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    Fazer o quê. Estamos todos ficando especialistas em espera. Espera da tosse, do médico, do fim de semana, do mini farnel, da F1, esperemos pois, as colunas de 15 em 15 dias. sem problemas….

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  • 18 de agosto de 2008 em 18:59
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    Belíssima coluna , por sinal, mais uma que vou guardando com as aulas históricas do Mestre Joaquim.Uma pena que vai ser só de quinze em quinze dias, mas a gente pode esperar, afinal todo mundo entende o trabalhão que deve dar.
    Vamos continuar aqui, prestigiando o boteco do Tio saloma!

    Resposta
  • 18 de agosto de 2008 em 18:59
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    Belíssima coluna , por sinal, mais uma que vou guardando com as aulas históricas do Mestre Joaquim.Uma pena que vai ser só de quinze em quinze dias, mas a gente pode esperar, afinal todo mundo entende o trabalhão que deve dar.
    Vamos continuar aqui, prestigiando o boteco do Tio saloma!

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  • 18 de agosto de 2008 em 22:01
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    Perfeitamente compreensível. É só não parar.

    Este é um espaço muito rico em informação.

    Abraços

    Resposta
  • 18 de agosto de 2008 em 22:01
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    Perfeitamente compreensível. É só não parar.

    Este é um espaço muito rico em informação.

    Abraços

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  • 19 de agosto de 2008 em 08:22
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    Joaquim, é bastante compreensível, pois já tinha imaginado como seria difícil fazer uma matéria a cada semana, pois requer bastante trabalho, de pesquisa, interpretação, botar o CPU para funcionar, até da vida rotineira que ocupa muito tempo.
    Acredito que todos vamos ganhar em mais qualidade ainda de suas matérias.
    Jovino

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  • 19 de agosto de 2008 em 08:22
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    Joaquim, é bastante compreensível, pois já tinha imaginado como seria difícil fazer uma matéria a cada semana, pois requer bastante trabalho, de pesquisa, interpretação, botar o CPU para funcionar, até da vida rotineira que ocupa muito tempo.
    Acredito que todos vamos ganhar em mais qualidade ainda de suas matérias.
    Jovino

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  • 19 de agosto de 2008 em 10:35
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    Tomara que os imbróglios resolvam-se bem com o mesmo talento das letras e sejam profícuos para os dois. quanto a nós esperar por qualidade e conhecimento sempre vale a pena. Abraços.

    Resposta
  • 19 de agosto de 2008 em 10:35
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    Tomara que os imbróglios resolvam-se bem com o mesmo talento das letras e sejam profícuos para os dois. quanto a nós esperar por qualidade e conhecimento sempre vale a pena. Abraços.

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  • 19 de agosto de 2008 em 11:23
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    Grande Joaquim, essa passagem do roubo do carro do time Penske francamente não sabia ,o que mudaria muito a historia daquela temporada ,uma pena.

    Resposta
  • 19 de agosto de 2008 em 11:23
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    Grande Joaquim, essa passagem do roubo do carro do time Penske francamente não sabia ,o que mudaria muito a historia daquela temporada ,uma pena.

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  • 19 de agosto de 2008 em 17:58
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    Mais uma bela coluna, infelizmente só agora daqui a quinze dias. Mas podemos esperar, é claro.
    Breve retorno ao Saloma e Joca.

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  • 19 de agosto de 2008 em 17:58
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    Mais uma bela coluna, infelizmente só agora daqui a quinze dias. Mas podemos esperar, é claro.
    Breve retorno ao Saloma e Joca.

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