DIÁRIOS DO HUGO #20

(PRIMEIRA PARTE)
7ª. Corrida – Interlagos – 22-11-2008
Preliminar da 36ª. Mil Milhas Brasileiras (extra-campeonato)

Foi só chegar em casa, na volta de Londrina, abrir a caixa do correio eletrônico, e no meio de um monte de e-mails, lá estava esta ótima notícia do Aroldo que transcrevo abaixo:

Oi pessoal,
Conforme combinado com o Toninho de Souza, promotor das Mil Milhas, está confirmada a nossa prova preliminar, com a seguinte programação:
5ª Feira – 20/11 = Treino das 18:15 as 19:00 hs (é horário de verão e estará claro)
6ª Feira – 21/11 = Treino das 15:15 as 15:45 hs e das 17:15 as 17:45 hs.
Sábado – 22/11 = Classificação das 9:30 as 9:50 hs
Largada: 12:00 hs = 25 minutos + 1 volta
Valor da inscrição: R$ 350,00.
Divisões: 1 até 1400 cc./ 2 até 1600 cc. / 3 até 2000cc.
Abs.
Aroldo Teixeira

Simbora prá próxima! Assim que é bom! Todo mundo se virando para arranjar corridas e divertimento.
As Mil Milhas Brasileira é uma prova tradicionalíssima. Esta será sua 36ª. edição em 52 anos de existência. Já fez parte da Le Mans Series, e este ano retorna ao seu formato original, abrigando mais carros de mecânica nacional, e sendo disputada sob o regulamento do Campeonato Brasileiro de Endurance. A largada esta marcada para as 11:00 horas de domingo dia 23, meu aniversário. Nossa prova será na véspera, dia 22. Tomara que haja boa divulgação e público. Vamos estrear as novas instalações do autódromo José Carlos Pace, exatamente 20 dias após o GP do Brasil de Fórmula 1 deste ano.

Fui para São Paulo de carro na quinta feira, e cheguei à tarde. Passei pelo Hotel Íbis Interlagos onde sempre me hospedo quando há corridas, fiz o check-in, deixei lá a bagagem, o macacão, e o capacete. Da janela dos quartos de frente dá para se ver, na colina ao longe, parte do traçado do autódromo com destaque para área de escape do Mergulho, pintada de azul.
Segui para a pista por volta das 17:30, mesmo porque, havia decidido não participar do primeiro treino livre, quase noturno, uma vez que haveriam dois outros na sexta, durante o dia.
As obras para receber a Formula 1 ficaram ótimas. O autódromo ganhou ares de pista internacional, dessas mais moderninhas. Colocaram um cobertura de lona tensionada “a la Bahrein” sobre o paddock, e está tudo limpinho e reluzente. A pista, impecável.
Ao chegar no box 21, surpresa! A direção da prova havia alterado os horários, e em cima da hora. Todos já haviam treinado mais cedo hoje, e o treino a seguir, seria o segundo. No dia seguinte, na sexta, haveria somente mais um, e assim mesmo, só às 19:00 hr.. Mesmo no horário de verão, com o céu encoberto como estava, prometia já estar bastante escuro. Qualquer atraso na programação por conta de alguma batida, óleo na pista, ou qualquer outro imprevisto, e não poderia treinar, pois a Brasinha, assim como diversos outros, não possui faróis operantes. Corri na secretaria para fazer a inscrição, e sem “farda”, combinei com o Nenê que ele daria umas voltas para sentir as modificações feitas no carro desde Londrina. Foram colocados facões traseiros mais curtos, iguais aos dos carros que competem em provas de terra, e uns novos calços na suspensão. Essas medidas visam reduzir a rolagem da carroceria, e principalmente, a alinhar melhor o conjunto motor e caixa, a fim de aliviar o esforço da caixa de câmbio, evitando as quebras frequentes. Nada disso havia sido ainda testado. Nenê entra no carro, se prepara, e os boxes são abertos. Me dirijo à sacada sobre o S do Senna para admirar a passagem do carrinho. Passa um carro, passa outro, passam todos, e nada da Brasinha passar. Caminho até a saída dos boxes, e lá está ela, no meio da maior confusão entre os fiscais de pista, e o pessoal da LF! Por esquecimento da secretária, e falta de comunicação interna entre o escritório da direção de prova, e os fiscais de pista, não constava o pagamento da inscrição, e consequentemente, a liberação do carro para treinar. Gritei, esbravejei, mostrei o canhoto do cheque, e nada. Os rádios walkie-talkie dos fiscais não falavam com o escritório, e era preciso se comunicar através de celular. As linhas estavam ocupadas! Sai então o Evaldo Miranda, em desabalada carreira, até o escritório localizado na ponta oposta de onde nós estávamos, e num piso mais abaixo. Eu sigo atrás. Lá chegando, e sob grande descompostura que frisava bem a incompetência daquela gente, conseguimos que “lembrassem” de fazer a liberação. A minha, e a do coitado do Eugenio Olívio do Fusca número 35 que se encontrava na mesma situação. Nisso, já havíamos perdido metade do treino. Felizmente, ainda deu para o Nenê dar umas cinco voltas e verificar que os acertos de suspensão tinham ficado razoáveis, mas que a carburação estava “gorda” demais. Assim mesmo, ele virou 2:12.
Dali mais um pouco, o cúmulo do ridículo acontece. O Flávio que já estava treinando há bastante tempo, entra nos boxes para um ajuste qualquer no seu Lada estreante. Na hora de repartir, os fiscais barram sua saída alegando que ele também não havia sido liberado! O Luiz Finotti, quase se descabela. O “primo” Giordano e eu, tentamos sem sucesso, mostrar o absurdo da situação àqueles irredutíveis e equivocados guardiões dos interesses pecuniários da organização. Quando verificamos que os fiscais desconheciam o que era bom senso, ou não eram providos de senso algum, nós mesmos tiramos os cones, e o Flávio voltou à pista. Burrice tem limite! No dia seguinte relatei ao organizador do evento, meu caro amigo Toninho de Souza, responsável pelos meus primeiros passos em Interlagos, o ocorrido, esperando que no futuro, as coisas andem melhor…
Logo depois caia a noite, e o treino se encerrava. Agora só amanhã às 19:00 hr., e rezando para que não chova. Muita nuvem baixa.
Sexta feira, vou esperar Cristina e Manoela que chegam em Congonhas, vindas do Rio, pelo vôo 2425 da Varig às 13:15. Vamos comemorar meu aniversário, no domingo, em Sampa! Com o treino marcado só para o início da noite, deixamos o carro no aeroporto, e fomos de taxi até o bairro da Liberdade comer sushi.
Finalmente, às 19:00 hr. em ponto, saio para a pista. Está escurecendo rápido, e nuvens cinza chumbo contribuem para isso. Uma primeira volta lenta, checando tudo, e uma segunda mais forte um pouquinho. O carro que já era bom de chão antes, agora estava ótimo! Mais baixo atrás, dá a impressão de que a frente não está tão presa. Está mais fácil de apontar nas curvas. A traseira, ao se aliviar o acelerador na tomada das curvas bem de baixa, como no S do miolo e no Bico de Pato, se solta lenta e previsivelmente, permitindo um contorno rápido, e bem fechado. Agora, dá até para botar uma segunda marcha, mas só por uns instantes, na saída do Bico de Pato para ajudar. Mas muito rapidinho, e logo em seguida, terceira de novo, senão destraciona, patina, e perde-se tempo ao invés de ganhar. O Nenê re-calibrou o conta-giros, e eu achei que a lâmpada do shift-light tava queimada! Esticava, esticava, e a danada não acendia. Tanto que, no Mergulho dava para ir até a freada da Junção em terceira! Mas talvez seja melhor botar uma rápida quarta para soltar mais o carro. Vamos ver… Paradinha no box para mexer na carburação que estava embrulhando um pouquinho, e pista de novo.
A sexta volta, em 2:08 foi a melhor. Significava o oitavo tempo entre os 25 que fizeram aquele treino “noturno.” Mais umas voltinhas, e chega. Já estava ficando bem escuro, e não valia a pena arriscar a quebrar qualquer coisa. Melhor guardar nosso fôlego para o dia seguinte que seria para valer! Muito bonito o “pit lane” com as luzes acesas.

Sábado chegamos cedo, lá pelas 7:45. Não gosto de chegar em cima da hora. Preciso de um tempo para entrar no clima, e me concentrar.
Pouquinho antes das 09:00 hr. começa a maravilhosa barulheira dos 33 carros roncando, ansiosos como seus pilotos, para entrarem na pista! O carro parece ótimo. Mesma rotina de sempre: Começar sem pressa, e ir aumentando aos poucos. Na terceira volta começou a ficar difícil de engrenar a terceira marcha. Parei no box, e prontamente o Nenê regulou o cabo da embreagem. Mais umas duas voltas, e parei novamente com o cabo do acelerador frouxo. O Marconi apertou num instantinho. Agora tava tudo bom. Umas voltinhas experimentando usar, e não usar, a segunda marcha no miolo, e achei mais prudente não usar durante a corrida. A nona volta foi em 2:07.2, a minha “flying lap”, e o melhor tempo registrado até a data. Peguei pista limpa, sem tráfego. Apesar de não saber naquele momento qual havia sido o tempo, dava para sentir que a volta tinha sido boa, e que não daria para melhorar significativamente, sem colocar em risco o equipamento. Pensei então com os meus botões: “Melhor recolher enquanto está tudo ótimo e funcionando bem, do que ficar tentando buscar décimos inúteis, me arriscando a uma rodada, ou pior, a quebrar alguma coisa”. Esse tempo me garantiu a décima posição no grid entre os 33 carros que largariam, dali a pouco, às 12:30 hs. Primeiro terço do pelotão. Razoável para bom, fiquei satisfeito.
Hugo Borghi

Luiz Salomão

Blogueiro e arteiro multimídia por opção. Dublê de piloto do "Okrasa" Conexão direta com o esporte a motor!

6 comentários em “DIÁRIOS DO HUGO #20

  • 12 de maio de 2009 em 14:34
    Permalink

    Hugo,mais um dos seus belos relatos.Parabéns.
    Abraços.

    Resposta
  • 12 de maio de 2009 em 14:34
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    Hugo,mais um dos seus belos relatos.Parabéns.
    Abraços.

    Resposta
  • 12 de maio de 2009 em 14:35
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    Hugo,mais um dos seus belos relatos.Parabéns.
    Abraços.

    Resposta
  • 12 de maio de 2009 em 14:35
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    Hugo,mais um dos seus belos relatos.Parabéns.
    Abraços.

    Resposta
  • 13 de maio de 2009 em 18:17
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    Obrigado Sérgio!
    Acho que a turma já está ficando meio de saco cheio dessas estórias…

    Resposta
  • 13 de maio de 2009 em 18:17
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    Obrigado Sérgio!
    Acho que a turma já está ficando meio de saco cheio dessas estórias…

    Resposta

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