BLUE CLOUD – DKW – NONA EDIÇÃO #2011
Fala Augusto Sanchez, nosso correspondente internacional no maior evento das Américas da marca DKW…
“Fumacentos,
Cheguei em casa domingo, mas só agora consegui editar todas as minhas fotos. O nono Blue Cloud – encontro nacional dos veículos DKW foi um sucesso. Até apareceram alguns “espiões” – mas de presença incontestável – O Simca do eterno Vigilante Rodoviário, o Trabant do nosso amigo Flávio Gomes, nem tão espião assim pois o projeto deriva de um DKW, e o eterno “chaleirista” Luiz Mendonça, que não veio com a carretera Godini porque não está pronta ainda. Ele poderia vir? Sim, ele poderia, pois é assumidamente um “tomador de toco” dos dkw´s, só levava pau na pista…
O Evento aconteceu no mesmo local do Poços Classic Car, o belíssimo parque José Afonso Junqueira, aonde a maioria dos participantes ficou hospedado no charmoso Palace Hotel, que mais uma vez ficou lotado.
Este ano conseguimos bater o recorde de qualquer evento de DKW´s jamais realizado no hemisfério sul: 95 carros compareceram até sábado, quando enfim encerramos a contagem (94 DKW´s mais um Trabant, que merece número também).
Acho que um evento desta importância deveria ter umas duas semanas. Aí daria tempo de conversar com todo mundo, tirar fotos de todos os carros, dar uma voltinha em cada um, trocar peças na feira do rolo, comprar outras com o Trovão, comer churrasco no Motorhome do Faísca, escutar as histórias do Arlindo Marx, ver com detalhes o motor 6 cilindros feito pelo Graciano, tomar mais whisky com o Crispim e com o Kiko Malzoni, escutando as velhas histórias da fazenda Matão. Enfim…. com duas semanas daria pra fazer mais um montão de coisas que só os apaixonados pela marca conseguem explicar.
Sabem o que é acordar às seis da manhã e descer sem ao menos passar pelo café só porque alguém já ligou um motor antes de você? Eu sei, mas isto não tem uma explicação lógica. Freud explica? Sei lá, será que ele por acaso teve DKW?
São coisas como estas que fazem qualquer apaixonado pela marca se programar o ano inteiro para o próximo Blue Cloud:
-Comprar aquele jogo de lanternas que há tempos você estava procurando no mercado livre….pela bagatela de 40,00 reais;
-Tomar um banho de piscina de água sulfurosa nas Termas…..por 10,00 reais;
-Ganhar um autógrafo do Marinho, naquela tampa traseira número 10 que você vai pendurar na sua sala – parafraseando a propaganda de cartão – Não tem preço.
-Assistir a uma aula sobre detalhes da preparação dos motores DKW de fábrica, entendendo o que foi feito no motor do Carcará, qual a altura de janelas, qual era a solução para durabilidade, etc.. – Seria o sonho de qualquer fanático como eu!!!!
Na sexta feira de tarde, quando cheguei, a grande vedete da festa era o Malzoni de chapa, número 10, com que o Marinho correu pela primeira vez em 19 de julho de 1964, na “I Seis Horas de Velocidade”. Disputada em 3 baterias, Marinho chegou ao final somente na 2ª bateria, quando conseguiu a 5ª colocação. (Zavataro, 2011)
Garimpado por anos, encontrado totalmente modificado, então transformado em algo parecido com um Puma, foi adquirido por Kiko Malzoni, que dispensa apresentações (veja a história aqui). Enfim restaurado de maneira fenomenal pelo André Valente, de Petrópolis, o carro estava imaculadamente lindo. Não há o que comentar, apenas tenho agora mais certeza ainda de que Rino Malzoni foi mesmo um mestre no que fazia, e tinha um dom absurdo para criar automóveis lindos.
Na cerimônia de abertura, com a presença do Prefeito de Poços de Caldas e organizadores do evento, o “Gran Finale” foi a entrega do Oscar às Celebridades que, de uma forma ou de outra, contribuem bastante para este universo Dekaveano. O Mais legal é que durante o coquetel aparece justamente o Raimundo Orrú vestido com um jaleco da Vemag, e descobrimos que foi ele quem serviu de molde para o Boneco do Oscar, apesar de certa semelhença com um outro amigo nosso.
Outra celebridade do Coquetel foi a lata de Castrol R que ganhei do Newtinho Alves, e que todo mundo fez questão de segurar um pouquinho.
O Coquetel acabava e nada do outro homenageado, Kiko Malzoni, chegar. Ele se perdeu saindo de São Paulo e veio por um caminho mais complicado, demorando quase cinco horas para percorrer um trajeto que normalmente demora duas. Fui buscar alguma coisa no carro e lá está ele procurando o pessoal. Falei para ele ligar para o Crispim que acabara de se recolher, e não é que o cara desce do quarto todo animado para irmos jantar com o Kiko? Foi uma noite de lembranças muito legais, algumas publicáveis, que vou deixar para contar outro dia. As impublicáveis deixarei apenas na memória, ou para um bate-papo aqui em casa.
Sábado, após uma noite de poucas horas de sono, antes das seis e meia da matina já tinha algum maluco acelerando um motor de DKW. Como expliquei, para os fanáticos que vão ao Blue Cloud, uma sinfonia como estas desperta como se fosse a mulher amada dando beijinhos e sussurrando em seu ouvido. Pulei da cama munido de arsenal fotográfico, e vamos a um rápido café. Já conhecem o assunto quando se junta um punhado de apaixonados por carros?
-“Prometi para a minha esposa que este ano não compraria mais nenhum carro, a promessa durou somente até 1º de janeiro”. (Christopher) Nota do que vos escreve: Tudo bem, ele comprou uma moto DKW…
-“Prometi que este ano construiria um barracão, mas vou ter que fazê-lo maior, pois comprei mais carros e o meu projeto já nasceu lotado!” . (Augusto Sanchez) Nota do que vos escreve: Alguém conhece algum grupo de terapia ou tratamento para esta doença?
-“Outro dia estava negociando uma geladeira antiga e um fogão de ferro, pensei que aí era só vir com a pick-up e levar para…para…para??!!…desisti, pois já não tenho mais aonde colocar nada!” (Davi Trancoso)
O sábado foi de homenagens aos proprietários de veículos do ano de 1961, que neste fazem 50 anos, de muita cerveja na “Gelaguet” do Orrú, de várias entrevistas com o Marinho, que iria dirigir o Malzoni II pelas ruas do circuito aonde ele venceu uma prova pela primeira vez, em outubro de 1959, com um DKW, batendo poderosas carreteras e outros carros de maior potência. Segundo nosso amigo Carlos Zavataro, foi aí que começou a sua fama de “Rei das Corridas de Rua”.
O Blue Cloud é um encontro de apaixonados, as imagens resumem isto. Não ficou pronto ainda? – Traz uma miniatura! Que horas são? Tem relógio com a marca DKW. Quer uma lingüiça gaúcha? Opa, churrasco no motor home do faísca! Pilotos da antiga se reencontrando e brincando de ultrapassagem… estas coisas não tem preço mesmo, só indo a um BC para entender.
Em algum momento fui cumprimentar alguém e o seu acompanhante se apresentou como “Tite”. “Catso” – pensei – “será que é ele mesmo?”. Era. Faz anos que gostaria de conhecer o “Tite Flecha”, pois temos fotos muito bonitas dele dentro da Lola T-210 durante o tornei sul-americano de 1971, tiradas pelo meu pai ou tio, não sabem ao certo. Dei um jeito de achar uma Lan e imprimir as imagens para dar para ele, que ficou numa felicidade imensa pois o pai, o eterno companheiro de pistas aparecia numa delas. Ver um senhor de mais de 60 anos marejar os olhos e te agradecer muito deixam qualquer moleque de 30 também emocionado….ganhei um amigo novo – mais uma vez, BC e seus pormenores….vocês têm que experimentar!
No passeio dos DKW´s pela cidade com o Marinho e o Malzoni como batedores, peguei uma carona num candango de Belo Horizonte, do amigo Hamilton e esposa. Foi proveitoso porque o candango dele, um ano mais novo do que meu Jipe DKW, possui vários itens originais que eu nunca vira. Clonei vários. A polícia de Poços que tentava organizar a carreata fumacenta se perdeu um pouquinho, dando informações confusas, e por fim nós nos perdemos da trupe. Reencontrado o hotel, achei enfim minha família, que veio completa, mãe, pai, namorada, sogro e sogra. Tentei dar atenção a eles, mas era um tal de alguém chamar pra isto, pra aquilo, que no fim mal consegui tomar um choop em paz. Ano que vem acho que vou disfarçado de chaleirista também…
No domingo consegui finalmente realizar o trabalho a que tinha me disposto, munido de Câmera-man (o Sanchez mais famoso no meio do cinema brasileiro, meu tio Conrado, e também o autor de algumas das fotos que ilustram nossa galeria aqui no boteco), eu enfim consegui juntar o Marinho, Crispim e Bob Sharp, ícones do antigo departamento de competição da Vemag. A idéia inicial era que eles explicassem pormenores da preparação daqueles blocos e peças arqueologicamente resgatados por mim e pelo Newton Alves, que guardou por 44 anos os volantes de motor utilizados no recorde de Carcará, que neste ano completou 45 anos. No fim, conseguimos excelentes depoimentos dos bastidores das oficinas do departamento de competições, como por exemplo a história de que o Crispim desobedeceu o Jorge Lettry, cortando mais do que indicado pelo chefe a parte inferior da saia do pistão do DKW, e isto deu 8 HP a mais no dinamômetro. Aquele pistão que dei de presente a ele no BC de 2008 é um destes exemplares.
Constatada a autenticidade das peças do Carcará, agora sim podem seguir para o Museu do Automobilismo Brasileiro, aonde terão seu merecido descanso e utilização em exposições temáticas, pois o Paulo pretende constituir um “Núcleo DKW” no museu, tamanha a importância destes carros na história das corridas no Brasil.
Finalizada a entrevista, ufa! Fazer as malas, sair do quarto, carregar o carro…e vamos pra Parada Gay. Pois é, Poços sediava, após o evento dos DKW´s, uma parada gay, vejam só que cidade versátil. Tirei a minha fantasia e fiz esta foto pra vocês. Abraços.
Quem quiser mais, tem um montão de fotos aqui:
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Augusto Sanchez
(reprodução)
